quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

PRÓLOGO "Borderô ou pensamento reflexivo?"

Borderô ou pensamento reflexivo?


O Teatro de hoje representa o verdadeiro sentido do fazer teatro e a sua funcionalidade?Mas o que é o verdadeiro fazer teatro e a sua funcionalidade? Complexo! Reconheço o valor dos espetáculos atuais, com suas montagens, suas estéticas, seus propósitos, etc;, mas o teatro sempre foi à expressão de um povo, de uma sociedade e de um meio. Mais do que demonstrar as nuanças de uma determinada época, estamos mais preocupados em números de ingressos. O teatro está sendo dirigido como qualquer outro negocio, com a necessidade de procurar grana. Os problemas, as questões e os ensinamentos estão sendo deixados de lado e apenas o montante do valor importa no negócio. Os valores dos textos, dos problemas questionados perdem para os valores comerciais. Isso esta afetando e muito o teatro e sua real importância, se considerarmos a arte teatral um modo de fazer refletir e colocar a pessoa para se auto questionar, validar a catarse. A ambição dos negocistas invade o teatro atrás de dinheiro à custa do que deveria ser a crônica de uma época, o espelho de uma sociedade, o lugar onde refletem os pensamentos e aspirações humanas. Propagandas, panfletos, luminosos coloridos, táticas para atrair menos seres suscetíveis à análise e sim provocar apenas risadas.
O ator e a atriz com seus nomes são fundamentais para que a plateia vá ao teatro para assisti-los. Isso acontece e muito hoje em dia. A peça pode não conter um enredo bem trabalhado e uma questão em destaque, mas o nome funciona para atrair o público, independentemente do conteúdo. As pessoas vão pelo nome não pelo texto, pela temática, pelo problema a ser discutido e refletido. Quer dizer que as produções do interior ou das não capitais com enfoque artístico, sem terem pessoas renomadas não têm o seu valor? Como surgir novos talentos? Apenas gatos pingados os prestigiam? Assim que funciona? Não estamos enxergando a sociedade que vivemos. Não refletimos, não participamos e não modificamos nossa sociedade. Quantas obras retratam os problemas sociais da época?Dos homens? Os olhos estão fixos nos chamados borderôs. Quando o dinheiro entra, para que se preocupar com os problemas dos homens e sociais né?
É preciso ter amor aos homens para escrever sobre sues anseios e problemas. Muitos espetáculos sustentam anúncios, luzes, os holofotes da fama, mas e o interior de uma sociedade, de um bom espetáculo o que os sustentam? O nível artístico esta médio, nada espetacular, para não dizer horrível. Não temos questões a serem discutidas, analisadas e solucionadas ou que cause desconforto e uma comoção para acometer de soluções e reflexões. Cadê Eurípedes, Aristóteles, Platão, Ionesco, Kusnet, Ibsen, Grotowski, Pirandelo, Molière, Shakespeare, Gil Vicente, Martins Pena, Nelson Rodrigues, entre outros? Obras e conteúdos desse nível já não são vistos por aí. Mas felizmente ainda há exceções. Existem muitas obras não bajuladas e fora dos cartazes na grande mídia e do público que estão sendo trabalhadas com muito suor, mas que muitas vezes estão sendo desvalorizadas pelos responsáveis culturais que possuem a intenção de agregar ao fácil, ao reconhecimento midiático e não sustentar a aparição de novas frentes e assim fomentar e oxigenar a cultura e suas ideais. Por desrespeito com a arte, suprimem a onda de fazer analisar a sociedade e o meio. Não digo que devemos sempre buscar o que já foi escrito, devemos sim criar novos,mas com a essência dos anteriores. Libertemos o teatro brasileiro e do mundo das leis dos borderôs, do confuso jogo dos negocistas e da mediocridade do pensamento. Segundo Arthur Miller: “Volte para o seu país e procure descobrir porque os homens são o que são, e não são o que gostariam de ser - e escreva sobre a diferença”. Autores...compreendam: mais do que amar uma personagem, interpretar é sentir e fazer viver forças atávicas que vem do sangue e do ambiente.

Borderô: em sua definição mais plena possível, é um relatório detalhado sobre toda a movimentação financeira e como ela transcorreu em uma noite ou em um período do evento. Trata-se de um fechamento completo que permitirá que os organizadores, ou algum outro tipo de público interessado como patrocinadores e investidores, tenham uma visão estratégica e tirem boas conclusões através dos números apresentados. A maioria para não dizer todos os teatros ficam com uma porcentagem do valor arrecadado.



Teatro Americano e a Broadway


A Broadway representa o teatro americano?

Com tudo o que escrevi acima, a resposta é: claro que não! O sucesso desses espetáculos está no maior número de vendas de ingressos do que educar ou fazer refletir o povo e sua época. Para que um espetáculo chegue à Broadway é necessário que o mesmo tenha um sucesso garantido de pelo menos três ou quatro meses no mínimo. Ai vem o problema do borderô. Lucro, grana, quantidade e não qualidade. O público não gosta de ouvir. Os olhos são mais fáceis de serem usados do que os ouvidos. O teatro está sofrendo transformações e chega ao seu destino estropiado, mancado e modificado que dificilmente o autor e a sua obra são reconhecidos. A “comercialidade” é forte na Broadway e muitos interesses indisfarçáveis movimentam as produções. Grandes sociedades comerciais e industriais compram milhares de bilhetes para divertir seus representantes ou agentes que visitam Nova York. Diversão! Espetáculos vitoriosos pelo lucro criam atrizes (muitas vezes sem o talento). Será que comprariam para assistir a um espetáculo com a temática de um autor mais critico ou reflexivo?





Nota: Informações muitas opiniões fundamentadas no livro: Jorge Andrade. (Re) leituras. Volume 1: A voz de Jorge.