VALE CULTURA: UMA COMPROVAÇÃO DA INCOMPETÊNCIA
Um projeto que está sendo levado muito a sério e que está prestes a ser aprovado ou melhor sancionado é a iniciativa do governo de criar um vale cultura. Benefício mensal de R$ 50 para a aquisição de bens culturais por parte de trabalhadores que recebam até cinco salários mínimos.
Agora, todas as empresas poderão oferecer a seus funcionários o vale, uma das principais bandeiras da gestão Marta Suplicy no Ministério da Cultura. Micro e pequenos empresários, não terão incentivo fiscal para entrar no programa, estão na contra mão das empresas de lucro real que terão mais generosidade do governo: eles poderão destinar ao Vale-Cultura até 1% do Imposto de Renda devido. A isenção fiscal (ou seja, o governo) financia R$ 45 do benefício, e os R$ 5 restantes ficam a cargo do trabalhador ou da empresa. Serão cerca de 42 milhões de beneficiários em potencial, segundo cálculos do MinC. De acordo com um estudo da Fundação Perseu Abramo, 91% dos municípios brasileiros não têm cinema, 79% não possuem teatros ou salas de espetáculo, 70% não contam com centros culturais e apenas 28% dispõem de ao menos uma livraria. O vale virá em cartão magnético, assim como são os cartões de vale-transporte e refeição. Todos os meses o cartão será abastecido com R$ 50, que pode ser acumulado mês a mês. Quando não consegue solucionar problemas o mais óbvio e a maneira mais imediata é criar um tapa buraco para amenizar e calar solicitações de um problema social e que as soluções são amplamente ineficientes.
Simples! Problema resolvido. Dar uma pequena “esmola” as pessoas para terem acesso á cultura. Genial! Não! Claro que não! É o fracasso da gestão em termos educativos e culturais. Há muito cobra-se incentivos a grupos e cias amadoras e profissionais, com mais facilidades e menos burocracia para a capitação de recursos.
Muitas empresas não querem associar sua imagem e marca a cias e grupos desconhecidos e só realizam a parceria com grandes companhias e grupos, com status consagrados e artistas famosos. Correto! Mas em termos. Precisa-se dar crédito e confiar no trabalho de muitos que podem não ter o reconhecimento da grande maioria por falta de mídia e apoio, mas precisam de atenção e assim ter os “olhos” voltados para seus trabalhos para que tenhamos um grande ganho para o fortalecimento da cultura em todo país. Sair do lugar comum. É preciso ter planos de geração de incentivos e fomentar grupos e cias com elementos mais favoráveis. Aliado a isso projetos que estimulam a criação de público. Não adianta querer gerar público se não tem produto para aquecê-los e não adianta fomentar a produção de trabalhos se não incentivar e facilitar a consciência cultural. As empresas comandadas por seus empresários e gestores precisam entender que o processo de “ajuda” dando suporte financeiro através de projetos de incentivos sejam eles fiscais ou não, contribuem para o fortalecimento para os todos os lados independentemente se o grupo ou cia for conhecido ou não. Não se deve ter esse preconceito. Que faça uma avaliação antes e presencie o trabalho com um monitoramento. Fato também que muitos não querem ou não podem, por medo de serem pegos na avaliação das finanças por terem caminhos tortos e assim podem parar na fiscalização do governo. Tem que se criar outras formas de incentivos, especificando as funções e determinar uma maior clareza e justiça para contemplar a todos. Deixar de lado falsas alusões e não condenar só porque não se é “conhecido”.
Criar mais cursos profissionalizantes, escolas, faculdades gratuitas ou com apoios privados, analisar o potencial e criar mecanismos eficazes, propor menos impostos, menos burocracia em concessão de locais para trabalhar, gerar intercâmbio, valorizar mais trabalhos locais mesclando com outros, valorizar e destinar verbas para criação dos grupos e cias com trabalhos acompanhados por pessoas profissionais, criar mais mostras amadoras e profissionais em conjunto para que assim se faça a troca de experiências e que se conheçam outras formas de trabalho, estilos, ideias e dinâmicas e escutar mais os envolvidos diretamente e os verdadeiros interessados para avaliar as necessidades. Tudo deve ser prestado contas e isso é indiscutível, mas deve-se proporcionar mais direção. Levar a arte para dentro das escolas, projetos sociais, ONGs, enfim, para todas as partes que possam proporcionar a formação de plateia e futuros trabalhadores e frequentadores das artes. Desses pequenos passos plantar sementes nas crianças e até nos adultos para que assim a cultura se torne uma rotina saudável para eles. Não é só levar a arte para os bairros, é levar o público para o teatro como espaço físico, fazê-los conhecer os pontos culturais da cidade, pois assim também se incentiva e isso é fundamental. A grande maioria não conhece esses espaços. A cultura não é para que cada um pegue, vai embora e retorne com valores a menos. A cultura deve ser absorvida. A postura do governo e do Ministério da Cultura é para dar uma resposta errada para a falta de competência de não saber coordenar uma cultura com um potencial enorme para ser ativa, mas que atualmente está amarrada aos valores interesseiros e demagógicos. Assim o vale cultura quando for usado vai apenas servir para ver Crepúsculo, X-Men, Tropa de Elite, comprar livros de culinária, de autoajuda e cds da banda Calypso, Hugo e Tiago, Rebeldes, entre outros produtos, desde que se encontre esses locais. Nada contra os nomes citados acima, pelo contrário, são formas de cultura, mas a cultura se resume só a isso? Quando você se sentir deslocado e não estiver alinhado com a “onda” cultural do país, é só pensar que dentro do seu bolso tem um cartão que instantaneamente preencherá a sua vida de conhecimentos, facilidades e soluções, e nós artistas trabalharemos em paz, sabedores que nossa bilheteria e nossos trabalhos serão avaliados e assistidos por diversos números magnéticos, caso eles encontrem o caminho da máquina. Uma salva de palmas para a modernização do pensamento ao aquecimento cultural do Brasil e suas mentes brilhantes!
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