quinta-feira, 11 de maio de 2017

TIPOS DE PERSONAGENS

PERSONAGEM


O termo personagem vem do Latim, persona(m), cujo significado é, máscara de ator de teatro. Em português, pode ser o personagem ou a personagem. Este último, talvez por causa da origem do termo em latim [persona]. No masculino, há quem diga ser devido à ausência de mulheres no teatro antigo; todos os personagens eram masculinos.
As personagens são arquitetadas pela fantasia do prosador e atuam no interior da narrativa literária; têm por função simular pessoas, comportamentos e sentimentos reais. Por isso, são construídas à imagem e semelhança dos seres humanos. Se bem construídas, nelas, teremos a impressão de pessoas vivendo situações e dilemas semelhantes aos nossos.
A personagem só existe na história se dela participa, ou seja, se age ou fala. Se uma determinada personagem é apenas mencionada na história por outras personagens, mas não participa direta ou indiretamente das ações, não será considerada uma personagem.


Indivíduos 

São personagens que possuem características pessoais marcantes, que acentuam a sua individualidade. Em Dom Casmurro (Machado de Assis), Capitu é uma personagem indivíduo.


Planas ou Estacionárias (lineares)

Constituídas de uma única ideia, defeito ou qualidade; carecem de profundidade psicológica, e não alteram seu comportamento no decorrer da narrativa. A personalidade delas é pobre, repetitiva; são previsíveis quanto ao seu comportamento, infensas à evolução. Jamais nos surpreenderão durante ou ao final da narrativa. São personagens estáticas, definidas em poucas palavras, por um traço, por um elemento característico básico, que as acompanha durante toda a história. É o irônico que está sempre fazendo ironias, o chato que só sabe ser chato, ou seja, são personagens que não apresentam contradições: são sempre boas ou más; corajosas ou mentirosas; malandras ou trabalhadoras. Como exemplo, podemos citar Iracema, do romance Iracema, de José de Alencar. Podem ser subdivididas em:

a) Tipos

São personagens típicas, de contornos e características peculiares e, exatamente por isso, eternizam-se. Podem ser identificados pela profissão, pelo comportamento, pela classe social, enfim, por um traço distintivo comum a todos os indivíduos duma categoria. Personagem Tipo seria o jornalista, o estudante, a dona-de-casa, a solteirona, etc. É o caso, por exemplo, da maioria das personagens de Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida, como o Barbeiro, a Parteira, o Major, os Ciganos, etc. O mesmo vale para a maioria dos personagens de Gil Vicente. quem se esqueceria de Sancho Pança, em D. Quixote? Comadres fofoqueiras, homossexuais, padres, nos romances, fazem parte deste rol de personagens.

b) Caricaturas

São personagens cujos traços de personalidade ou padrões de comportamento são propositalmente acentuados (às vezes beirando o ridículo) em função do cômico ou da sátira. São personagens muito comuns, principalmente, em novelas de televisão. Manuel Antônio de Almeida, em Memórias de um Sargento da Milícia, Patrocínio das Neves, a "Titi" do livro A Relíquia, de Eça de Queirós.


Redondas, Esféricas ou Evolutivas

São complexas, bem acabadas interiormente, repelem todo o intuito de simplificação. São definidas por vários traços diferentes, cheias de contradições; apresentam comportamentos imprevisíveis, enigmáticos, que vão sendo definidos no decorrer da narrativa, evoluindo e, muitas vezes, surpreendendo o leitor. São também chamadas de multiformes, e nos surpreenderão porque evoluem na narrativa. Dinâmicas e tridimensionais. Ora são covardes, ora corajosas; ora possuem virtudes, ora defeitos; enfim, expressam a verdadeira natureza humana. A personagem-protagonista de João do Santo Cristo do texto Faroeste Caboclo, é evolutiva, pois é uma mistura de santo e bandido. Podem ser subdivididas em:

a) Caracteres

São personagens cuja complexidade se acentua, gerando conflitos insolúveis: é o caso das personagens clássicas gregas: Édipo Rei, Prometeu e Medeia.

b) Símbolos

São personagens que parecem ultrapassar a barreira do mero humano, transcendem. Ostentam profundidade psicológica e multiplicidade de ações: Diadorim, de Grande Sertão: Veredas, Ulisses, da epopeia grega "A Odisseia, de Homero".

Estas personagens, imprevisíveis em suas atitudes, rompem com a linearidade e nos provocam impactos com suas ações: Medeia, que mata os filhos, apesar de amá-los, para vingar-se do marido que a trocara por outra mulher; Édipo, que, após ter descoberto sua verdadeira origem, conclama a multidão e fura os olhos na frente do povo; Prometeu, que furta o fogo sagrado dos deuses e alia-se aos mortais e andróginos, castigado, amarrado ao Cáucaso, com uma águia a lhe devorar todos os dias o fígado que cresce sem parar.

As personagens podem ser caracterizadas física ou psicologicamente, ou ainda, de ambas as maneiras simultaneamente.


Principais e secundárias

A referência serve para designar que às principais cabe sustentar, como eixo, todos os fatos inerentes à narrativa. Às secundárias cabe dar suporte à continuidade da história, intermediando as ações e girando ao redor das principais como seres complementares.

a) Protagonistas

As que encabeçam as ações, sustentam o eixo narrativo. É a personagem principal em torno do qual se constrói toda a trama. O protagonista pode ser caracterizado como herói ou anti-herói. Em nossa literatura é muito frequente o anti-herói como protagonista. Macunaíma é um exemplo do herói sem nenhum caráter, ou seja, o anti-herói. Leonardo (filho) em Memórias de um Sargento de Milícias é outro bom exemplo disso.

b) Antagonistas

Designação atual para o antigo vilão. É a personagem que cria o clima de tensão, opondo-se ao protagonista. Ao construir uma narrativa, nunca despreze o antagonista; o sucesso de uma narrativa está diretamente ligado à perfeita caracterização desse personagem. Que digam as novelas de televisão!
Protagonista e antagonista são caracterizados, na linguagem popular como "mocinho e bandido". Em outros termos, herói e vilão. Cabe a elas impedir, dificultar, atormentar a "vida" das personagens protagonistas. Como observação, seria bom lembrar que as antagonistas não precisam ser propriamente pessoas; às vezes, são representadas por sentimentos, grupos sociais, peculiaridades de ordem física, psicológica ou social dos indivíduos e até podem representar instituições. Suponhamos que você tenha uma história onde dois indivíduos do mesmo sexo se amem e queiram casar. O antagonista será o Estado, a sociedade, a Constituição que os impedirá de concretizarem seus desejos.

c) Coadjuvantes/Figurantes

O mesmo que secundárias. Co-auxiliam no desenvolvimento da história. Personagens sem grande importância na narrativa. As secundárias participam na ação, no entanto, não desempenham papéis decisivos. Os figurantes não têm qualquer participação no desenrolar da ação, cabendo-lhe apenas ajudar a compor um ambiente ou espaço social.

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