segunda-feira, 22 de julho de 2013

Análise crítica do espetáculo "O Arquiteto e o Imperador da Assíria" - Cia. de 2

ESPETÁCULO “O ARQUITETO E O IMPERADOR DA ASSÍRIA”

Cia. de 2 da cidade de São José dos Campos –SP


O espetáculo tem a estética da composição da ambientação com um formato de areia no centro do palco com dois galhos secos que estruturam a configuração de um deserto. A chegada de um sobrevivente de um desastre de avião encontra um nativo que nada sabe além de sua visão do que viveu até então. Porém não deixa claro o fato da personagem ser nativo ou ser ele também vítima de um desastre e por conta do tempo adaptado e com isso “perdeu” seu conhecimento e se deixou iludir com a criação de outro ser. A personagem remete em sua acepção do tema e do conhecimento ao Mito da Caverna de Platão onde através desta metáfora é possível conhecer uma importante teoria platônica: como, através do conhecimento, é possível captar a existência do mundo sensível (conhecido através dos sentidos) e do mundo inteligível (conhecido somente através da razão). Outra analogia que se pode fazer é sobre o texto A Vida é Sonho, uma peça teatral do dramaturgo e poeta espanhol Pedro Calderón de la Barca onde existe uma personagem, Segismundo, no âmbito do conhecimento de si mesmo para ter a real noção de seu universo e a personagem do carcereiro, Clotaldo que serve como tutor assim como a personagem do Imperador age com a personagem do ser vivente naquele local. Outro aspecto do cenário é a sua adaptação com a necessidade da cena. Os atores brincam muito com o jogo das palavras e os níveis dos corpos realçando o nível de hierarquia da atuação cênica das personagens. A presença de dois atores não prendeu a criação e a execução do feminino e com um detalhe muito bacana que é não forçar a feminilidade. É viável e necessário as personagens femininas, mas não esquecendo as características do próprio ator, utilizar seus recursos de atuação e não esquecer de sua estrutura vital, ser um homem atuando como mulher sem forçar a barra. Em muitos momentos as construções corporais das personagens se assemelham a de um animal. O enredo leva ao público o místico e a dualidade da sensação da verdade ou mentira das ações. Brincadeiras entre as personagens mostrando a loucura já com o tempo sendo passado em dois anos desde o acidente, tempo esse que pode ser irreal e só mental. A estrutura do contexto introduz muitos aspectos religiosos como crucificação, o mover montanhas e a indagação do poder real de Deus. Uma das cenas mais marcantes foi à alusão aos macacos e a evolução do homem e com a introdução da brincadeira que tudo deverá voltar e o homem deverá se transformar novamente. Outras personagens são retratadas no espetáculo e tudo feito de maneira proposital com auxilio de máscaras introduzidas no enredo. Dentre elas a imagem da mãe do Imperador no qual é discutido seu assassinato ou não e que posteriormente é citado, mas com o foco da condução da peça a ação fica na dúvida da veracidade dos fatos. A crítica das regras e leis se aflora em alguns momentos da história como no tribunal e o massacrante questionamento dos envolvidos. O amor e desejo do filho pela mãe é algo muito analisado ao longo dos tempos como o Complexo de Édipo. A história vai se desenvolvendo com uma dinâmica atraente até sua metade, mas com cenas longas e com o objetivo já alcançado o prolongamento se torna cansativo para a plateia assim como diálogos com construções exauridas. O nu é muito discutido na atuação e só deve ser com o propósito legítimo do conteúdo da mensagem e no espetáculo para mim ficou claro a utilização correta desse artificio. A iluminação foi adequada e precisa no desenrolar e a preparação física e mental dos atores foi de encher os olhos com boa articulação das falas e noção exata do trabalho. A confiança do trabalho fez a atuação dos atores segura. A direção se evidencia no jogo das técnicas de utilização dos recursos explícitos em palco e da noção espacial dos atores e da consciência do trabalho a ser realizado. Tudo termina com alusão ao início e a difusão de uma nova história que faz o público pensar: São alucinações despojadas de sentido ou uma filosofia de demonstrar o real escondido no irreal?
Essas são observações e uma análise que nunca serão destrutivas, mas sempre com o intuito de poder ajudar.



Nenhum comentário:

Postar um comentário