terça-feira, 18 de junho de 2013

PRÓLOGO "UVA DOIDA"


UVA DOIDA                       


Conta à história que nas festas em homenagem ao deus Dionísio tudo era regrado de muito vinho e orgia. Sátiros, ninfas e centauros enlouqueciam com os efeitos da bebida e do delírio das festas, e essas celebrações se tornavam eventos alucinógenos. 
Trazendo essa pequena introdução para os tempos de hoje, muitos têm o fascínio e até a curiosidade de conhecer esse universo das artes, nesse caso a televisão e o teatro. Vou me atentar ao universo teatral. As pessoas entram tímidas, com o olhar baixo, introspectivas, voz quase nula e com uma interação muito deficitária. Óbvio que existem pessoas com características contrárias a essas citadas, mas esse tema é para outra matéria. Há muito tempo empresas, escolas e os próprios pais buscam o teatro ou outra forma que envolva certa oratória para melhorar o “falar” e “agir” em público. E fazem muito bem! Porém...esse é um mundo que ao mesmo tempo que favorece pode fazer o ser humano perder-se pelo caminho. As dificuldades são muitas, mas as tentações são ainda maiores. Com a vivência sei que se pode melhorar o falar em público, melhorar o olhar de uma forma mais densa e vibrante e se tornar extrospectivo (a). O que acaba por distorcer o propósito de estar fazendo teatro é a perda da consciência real, independentemente de querer se tornar profissional da área, ou apenas fazer por hobby ou por outra finalidade. O consciente do “poder” que muitos acham que têm, por achar que ao utilizar algo que hoje é muito glamourizado, o faz ser o dono de praças, ruas, parques, das conversas, das festas e das noitadas. Pessoas começam a colocar para fora os sentimentos adormecidos ou que nunca tinham. Com o passar da prática teatral presenciei transformações e inúmeras situações de pessoas que se metamorfaram para melhor, mas um grande número que se metamorfaram para uma vida dúbia e até decadente. Quantas vezes em conversas eu presenciei pessoas falando sobre acontecimentos que há muito não seriam capazes de fazer. Presenciei casos em que as pessoas em festas, celebrações, comemorações e nas famosas baladas mudavam seus comportamentos com o consumo de álcool e de drogas. Claro que o efeito do álcool e da droga altera o comportamento e os reflexos, mas falo de algo que se exacerba com a sua utilização: a falsa aquisição do “poder fazer tudo”. Atores e atrizes e pessoas ligadas, extravasam ao beberem muito, se drogarem muito e começam a promiscuidade em vários sentidos. A “pegação” sem o senso do correto e saudável é um fator. Lembro-me de alguns andarem pelas noites se embebedando e se drogando, e começarem a “representar”, proclamando aos ventos palavras de cunho baixo, querendo chamar à atenção. Roupas eram tiradas e com a certeza que estavam arrasando. Muitos diziam: “Eu sou ator”! “Eu sou atriz”! “Eu posso, pois minha arte é representar.” Não tendo vergonha da ação. A transformação de um ser em seu caráter ocorre desde que não consiga separar bem as coisas. Nós, pessoas ligadas às artes, principalmente atores e atrizes, por representarmos personagens e levarmos histórias ao público, não podemos nos dar o direito de agirmos como pessoas acima da regra e do correto. Muitos discutem o que é ser correto, o que são as regras, o respeito e o bom senso, e isso é um ponto interessante de se discutir, mas em outro momento. Ser ator e atriz não é ser bagunceiro, sair proclamando e quebrando só por sermos talvez mais despojados que muitos. Podemos nos considerar especiais por termos o talento e o privilégio de trabalhar vivenciando muitos mundos e muitas personagens. O que pode nos tornar especiais é ter a disciplina, a coragem de emprestar o nosso corpo, nossa voz e o nosso cérebro para dar vida a outros seres e a nossa mente aberta. Não confundam a índole e não distorçam o trabalho do ator e da atriz. O fazer teatro não dá o direito de alterar o seu caráter. Façam teatro, seja qual for o objetivo, mas respeitem a arte e a você mesmo.

2 comentários:

  1. Bom eu Já ouvi falar muito disso, aliás isso é bem nítido nos dias de hj, vemos muitas atrizes e atores num ''troca troca'' de parceiros, parece que etão trocando de roupa. Eles com certeza tem muito mais facilidade em conhecer pessoas, e acabam se entregando a isso. Não Julgo esse tipo de atitude, mas também não acho lega, acho que vida profissional é uma coisa, e pessoa é outra que deve ser preservada.

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  2. Acho que cada um sabe de si, quem quer fazer isso deve fazer mesmo, pois a vida é muito curta e temos que aproveitar ao máximo. Ainda mais pessoas famosas, atores e atrizes, acho bem melhor fazer essa farra toda, do que ficar reprimindo suas vontades, acho certo fazer oq se tem vontade, é como dizem que o ser humano, quando está sob efeito de algo alucinógeno, tende a ser mais sincero do que lucido, então se fazem isso alucinados, é porque não tem coragem de fazer lucidamente. Eu trabalho com artes cênicas e não preciso fazer isso para me sentir feliz, mas alguns necessitam de algo a mais.

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