quarta-feira, 30 de abril de 2014

WILLIAM SHAKESPEARE - OXFORDIANOS


WILLIAM SHAKESPEARE


OXFORDIANOS

Há também a versão dos oxfordianos, conforme iremos expor abaixo.

O candidato mais popular de antigamente é Eduardo de Vero, 17º Conde de Oxford. Esta teoria, proposta primeiramente por J. Thomas Looney, em 1920, persuadiu nomes como Sigmund Freud, Charlie Chaplin e muitos outros intelectuais do século XX. A teoria foi levada à grande proeminência por Charlton Ogburn, em seu O Misterioso William Shakespeare (1984). 

John Thomas Looney (1870 - 1944) era inglês e professor; é mais conhecido por ter dado origem à teoria Oxfordiana. Em 1920, publica sua teoria de que Edward de Vere, décimo sétimo conde de Oxford, foi o verdadeiro autor das obras de Shakespeare.

Também Charlton Ogburn, Jr. (1911 – 1998) foi um jornalista e escritor de memórias e obras de não-ficção, que se fez um conhecido defensor da teoria Oxfordiana sobre a autoria de Shakespeare. 

Os oxfordianos apontam inúmeros outros itens que merecem consideração:

- a aclamação que os contemporâneos de Oxford faziam em relação a seu talento para a poesia e para a dramaturgia;

- sua proximidade à Rainha Elizabeth I e sua vida na corte;

- o fato de que Oxford teve o trabalho de sublinhar passagens bíblicas que, mais tarde, foram citadas nas peças de Shakespeare; 

- fraseologia paralela e similaridade de pensamentos entre as obras shakesperianas e as grafias e poesias que sobreviveram do Conde; 

- sua extensa educação e inteligência;

- seus registros de viagens para toda a Itália, incluindo locais e regiões citadas em algumas peças;

- estudiosos dizem que Oxford não poderia ser o autor, porque morreu em 1604, antes de Rei Lear, Macbeth e outras oito peças terem sido escritas. Oxfordianos respondem que, apesar do que os acadêmicos ortodoxos diziam, ninguém sabia ao certo as datas de muitas das últimas peças de Shakespeare – e, de qualquer forma – Oxford poderia tê-las escrito antes de morrer. 

Os que não aceitam essa teoria apontam que a maior prova contra a candidatura de Oxford é que ele morreu em 1604, enquanto alegam que um certo número de peças de Shakespeare teriam sido escritas após e durante essa data. Certos eruditos convencionais e, principalmente os oxfordianos, reagem a esta afirmação, argumentando que os ortodoxos têm datado uma série de peças que, na realidade, apenas salientam a autoria alternativa de Oxford, e alegam que não há nenhuma prova concludente de que as peças ou os poemas foram escritos após a morte do Conde (1604).

Ainda sobre Edward de Vere, décimo sétimo conde de Oxford (1550 - 1604), sabe-se que foi um inglês e cortesão da era elisabetana. Oxford era o herdeiro do segundo condado mais antigo do reino, um favorito tribunal por um tempo, um procurado patrono das artes, e observado por seus contemporâneos como um poeta lírico e dramaturgo, mas seu temperamento imprudente e volátil impedia-o de alcançar qualquer responsabilidade cortês ou governamental, e contribuiu para a dissipação de sua propriedade. Oxford era o único filho de John de Vere, conde 16 de Oxford, e Margery Golding . Após a morte de seu pai, em 1562, ele se tornou uma ala da rainha Elizabeth e foi enviado para viver na casa de seu principal assessor, Sir William Cecil . Ele se casou com a filha de Cecil, Anne , com quem teve cinco filhos. Oxford foi afastado dela por cinco anos, depois que ele se recusou a reconhecer seu primeiro filho como seu.

Enquanto vivia na casa do Sir Cecil , os estudos diários de Edward consistiu de instrução de dança, francês, latim, cosmografia, exercícios de escrita, desenho e orações comuns. Durante seu primeiro ano na casa do Sir Cecil, Oxford foi brevemente tutelado o antiquário e anglo-saxão estudioso. Em agosto 1564, Oxford estava entre 17 nobres, cavaleiros e escudeiros na comitiva da rainha que foram agraciados com o título honorário de Mestre em Artes pela Universidade de Cambridge, e foi premiado pela Universidade de Oxford em um progresso real em 1566. Registros de livros comprados para Oxford, em 1569, atestam o seu contínuo interesse pela história, assim como a literatura e a filosofia. Em 1571, Oxford era um dos favoritos da corte de Elizabeth.

Versos manuscritos de Oxford circularam amplamente nos círculos da corte. Os críticos contemporâneos elogiaram Oxford como poeta e dramaturgo. Uma estranha reviravolta na história sugere que a rainha Elizabeth e o Conde de Oxford teriam tido um relacionamento clandestino, o que explicaria por que Oxford não podia reivindicar o crédito pelas peças falsamente atribuídas a Shakespeare. Se houvesse alguma conexão entre a rainha Elizabeth e Oxford, a realeza poderia ficar manchada pelas ambições do conde como dramaturgo. Há uma hipótese que afirma ser Edward de Vere filho de Elizabeth.

A mais excêntrica teoria sobre o conde se tornou uma superprodução de cinema, Anonymous, dirigida por Roland Emmerich, em 2011. 



WILLIAM SHAKESPEARE - MARLOVIANOS



WILLIAM SHAKESPEARE



MARLOVIANOS


É importante relevar o valor defendido pelos marlovianos para caracterizá-lo como autor das obras shakespearianas. Assim, apontamos quem foi Marlowe: Christopher Marlowe (1564 —1593) era dramaturgo, poeta e tradutor inglês, e viveu no Período Elizabetano. É considerado o maior renovador da forma do teatro do período com a introdução dos versos brancos (são versos que possuem métrica, mas não utilizam rimas), estrutura que será empregada por Shakespeare.

Há uma suspeita que reforça a teoria de que o jovem e talentoso poeta-dramaturgo Christopher Marlowe foi o autor das peças; a teoria foi feita nos primeiros meses de 1895, porém o criador da mais detalhada hipótese da autoria de Marlowe foi Calvin Hoffman (falecido em 1988, um americano crítico de teatro, na assessoria de imprensa, e escritor americano), autor do livro The Murder of the Man who was Shakespeare (“O assassinato de um homem que foi Shakespeare”), publicado em 1955. 

Calvin Hoffman popularizou, com seu livro de 1955, a teoria Marloviana de que o dramaturgo Christopher Marlowe foi o autor real das obras atribuídas a William Shakespeare. Como outras teorias alternativas sobre a autoria de Shakespeare, as reivindicações de Hoffman foram amplamente descartadas por principais estudiosos de Shakespeare.

Marlowe criara uma celeuma com sua produção literária quando frequentava a Cambridge, universidade em que ingressara graças a uma bolsa. 

Marlowe disse ter quase sido assassinado por um grupo de espiões, por volta de 1593. Eis um possível fato que promove a teoria marloviana, sendo que Marlowe estava sendo ameaçado de morte por heresia, e acabou sendo salvo (por pessoas da alta sociedade, o que o obrigou a escrever obras creditando-as a William Shakespeare).

Os Marlovianos apontam o estilo de ensaios e estudos que parecem revelar a forma como "os dois autores" utilizaram paralelos de fraseologia e vocabulário estilístico semelhantes.

Os estudiosos de Shakespeare insistem em que Christopher Marlowe não poderia ter escrito peças que datam de até 1614, porque foi morto em 1593. Os defensores de Marlowe argumentam que ele não foi, na verdade, assassinado; seu assassinato teria sido forjado, enquanto o escritor se mudava secretamente para o continente, onde escreveria as peças, hoje conhecidas como sendo de Shakespeare.







WILLIAM SHAKESPEARE - BACONIANOS


WILLIAM SHAKESPEARE

BACONIANOS

Sobre os que acreditam que os textos literais não são de Shakespeare, ainda há a versão de Bacon sobre Sir. Francis Bacon como “autor” ou responsável pela autoria grupal.

Delia Salter Bacon (1811 - 1859) foi uma americana escritora de peças de teatro e contos. Em 1845, Delia Bacon tinha a teoria de que as peças atribuídas a Shakespeare foram escritas por um grupo, sob a liderança de Sir Francis Bacon, com Sir Walter Raleigh como o escritor principal, cuja finalidade era inculcar uma avançada política e sistema filosófico para o qual eles próprios não poderiam assumir publicamente a responsabilidade. Em 1853, com a ajuda de Ralph Waldo Emerson, Delia Bacon viajou para a Inglaterra em busca de evidências para apoiar suas teorias. Em vez de realizar a pesquisa de arquivo, ela procurou descobrir enterrados manuscritos, e tentou sem, sucesso, convencer um zelador para abrir o túmulo de Bacon. Com isso, muitos começaram a seguir essa ideia. Em 1884, a questão havia produzido mais de 250 livros, e muitos afirmam que a guerra contra a hegemonia Shakespeare quase foi vencida pelos baconianos, depois de uma batalha de 30 anos. Dois anos mais tarde, a Francis Bacon Society foi fundada na Inglaterra, para promover a teoria. A sociedade ainda sobrevive e publica uma revista, Baconiana , para continuar a sua missão. 

Além de Delia Bacon, convém apontar outros homens que alegavam ser Francis Bacon o autor das peças teatrais:

William Henry Smith (1825 - 1891) foi um inglês empresário que tomou conta da livraria e tabacaria da família Smith , e ampliou a empresa introduzindo a prática da venda de livros e jornais nas estações ferroviárias. Também foi político. Smith foi a primeira pessoa a publicar a alegação de que Francis Bacon foi o autor das peças de Shakespeare, fundando a teoria baconiana. Em setembro de 1856, ele escreveu uma carta descrevendo o seu argumento. 

Desde que Delia Bacon tornou-se mentalmente doente logo após a publicação de seu livro, Smith tornou-se o líder do movimento Baconian.

Sir Francis (1561-1626) foi cientista, filósofo, diplomata, ensaísta, historiador, poeta e político bem-sucedido que atuou como advogado geral, procurador-geral e Lord Chanceler.

Os Baconianos chamam a atenção para as semelhanças entre frases específicas das peças e as regras escritas por Bacon em seu Promus, que ficou desconhecido do público por cerca de 200 anos após ter sido escrito. Grande parte dessas entradas foram reproduzidas em peças de Shakespeare. Há, inclusive, um documento em que Bacon confessa estar sendo um "poeta ocultado” e, segundo muitos estudiosos, Bacon estava no conselho governante da Companhia de Virgínia onde escreveu A Tempestade. Além disso, há indícios de que não foi a companhia de Shakespeare quem produziu a sua primeira e famosa peça A Comédia dos Erros, e sim a uma entidade chamada Gray's Inn (associação profissional de advogados e juízes em Londres); inclusive, acredita-se que essa última companhia era controlada por Bacon. Em 1883, a Sra. Henry Pott de Bacon, da editora Promus (caderno onde anotava pensamentos e frases), encontrou 4.400 paralelos de pensamento ou expressão entre Shakespeare e Bacon.









domingo, 27 de abril de 2014

WILLIAM SHAKESPEARE - VISÃO DOS QUE NÃO ACREDITAM NA AUTORIA



WILLIAM SHAKESPEARE


VISÃO DOS QUE NÃO ACREDITAM NA AUTORIA


Abaixo seguem argumentos dos que não acreditam na autoria de Skakespeare: 

- alegam que Greene, na verdade, duvidava da autoria de Shakespeare, uma vez que este era um ator que apenas assumia habilidades que não eram suas (corvo) e ganhava de alguma forma (próspero);

- ambiguidade e falta de provas concretas quanto à evidência histórica da autoria de Shakespeare;

- era apenas um homem - provavelmente pago - que assumia os dotes literários de terceiros, que permaneciam anônimos;

-prática adotada por escritores que camuflavam seus nomes, enquanto outros apareciam nas publicações de suas obras;

- a afirmação de que as peças possuem um nível alto de instrução (conhecimentos gerais e línguas estrangeiras) maior do que aquele que se sabe, Shakespeare chegou a conhecer;

- a evidência sugestiva de que o autor faleceu quando Shakespeare de Stratford ainda estava vivo;

- os registros de alunos que frequentaram a mesma escola não sobreviveram, de modo que essa afirmação não passa de uma especulação, pois não prova se Shakespeare estudou nela ou não;

- não há evidências provando que o bardo frequentou algum tipo de universidade;

- certas referências contemporâneas de Shakespeare têm reforçado a tese de que as obras shakespearianas, para terem sido escritas, não precisariam de uma quantidade pouco usual de ensino: a homenagem de Ben Jonson, no First Folio de 1623, afirma que as peças eram longas, embora tivessem "um latim pobre e pouco grego"; essa explicação não contraria o argumento de que o verdadeiro autor também precisaria ter conhecimento em línguas estrangeiras, ciências modernas, conceitos sobre guerra, aristocracia, esportes, política, caça, filosofia natural, história, falcoaria e direito;

- dúvidas quanto à autoria expressas pelos próprios contemporâneos; mensagens codificadas em alguns trabalhos que parecem identificar outro autor (como a sigla "W.S."- Wentworth Smith, um obscuro dramaturgo a quem caberia bem à sigla, por ter as mesmas iniciais de Shakespeare);

- a falta de informações biográficas, às vezes, tem sido tomada como uma indicação de uma tentativa organizada por funcionários do governo, para expurgar todos os traços de Shakespeare a partir do registro histórico, e para esconder a identidade do verdadeiro autor. Por exemplo, a falta de registros de frequência para a escola de gramática de Stratford é tomado como sugestão de que estes podem ter sido destruídos para esconder prova de que Shakespeare não compareceu à escola;

- retratam a cidade como um remanso cultural, faltando o ambiente necessário para cultivar um gênio e representar Shakespeare, já que era formada por ignorantes e analfabetos;

- apontam o hífen usado em "Shake-speare" como a utilização de um pseudônimo;

- o testamento de William Shakespeare é longo e explícito, listando posses de uma bem-sucedida burguesia. No entanto, o documento não faz qualquer menção à vida particular, nem lista cartas, tampouco livros de qualquer tipo. Além disso, não dá nenhuma pista quanto à carreira literária de Shakespeare, e não se refere a nenhuma ação no Globe Theatre, sendo que eram ações extremamente valiosas;

- alguns estudiosos afirmam que existe pouca informação topográfica nos textos, e erros, como quando se refere à Verona e Milão como portos marítimos;

- sugerem que as informações acima provam que o autor das peças precisaria ter viajado e ter tido experiências nessas regiões, e, assim, concluem que essa figura teria sido um diplomata, um aristocrata, ou um político, menos o homem de Stratford;

- afirmam que as peças de Shakespeare contêm diversos coloquialismos, como designações de itens raros na flora e na fauna de Warwickshire, onde Stratford-upon-Avon está localizada, como 'amor de ociosidade', em Sonho de Uma Noite de Verão. Essas designações, segundo esses estudiosos, sugerem que quem escreveu as peças foi um nativo de Warwickshire. Investigadores salientam, contudo, que o Conde de Oxford, um dos possíveis autores das peças, era proprietário de uma casa senhorial em Bilton, Warwickshire, o que poderia pôr em xeque essa afirmação ortodoxa dos principais estudiosos, apesar dos registros mostrarem que a propriedade era alugada, e que fora vendida em torno de 1581.

- esposa e filhas eram analfabetas, sugerindo que o pai não ensinou seus filhos nem a ler ou escrever;

- para se ter a capacidade de escrever todas as peças atribuídas à Shakespeare, seria preciso de uma prática de escrita, nem que fosse o recebimento ou a emissão de cartas, ou pequenas anotações; mas essas não existem ou, se existem, não passam de especulações; quanto a isso, os estudiosos acham inacreditável não haver nenhum registro de escrita por parte de Shakespeare;

- provavelmente, naquela época, apenas personalidades aristocráticas ou estudantes universitários poderiam ter uma profunda compreensão de política, direito e idiomas;

- acentuam que à medida em que a descrição do dramaturgo em relação à nobreza é altamente pessoal e multifacetada, seu tratamento em relação à classe baixa é completamente tencionada ao lado cômico;

- a maioria das observações anti-stratfordianas acreditam que o verdadeiro autor das peças viajou muito e para lugares bem distintos, uma vez que muitas das peças mostram grande atenção a locais europeus, além de apresentar alguns detalhes dessas regiões.





WILLIAM SHAKESPEARE - VISÃO DOS QUE ACREDITAM NA AUTORIA


WILLIAM SHAKESPEARE


VISÃO DOS QUE ACREDITAM NA AUTORIA



Segundo a visão dos que acreditam na autoria, vários acontecimentos a comprovariam Shakespeare como real autor:

- esteve matriculado na Escola do Rei, em Stratford, até os seus quatorze anos, onde teria estudado o latim, a língua grega e uma vasta literatura, incluindo nomes como Ovídio e Platão, além de poemas franceses, histórias nacionais e romances italianos;

- não há evidências provando que o bardo frequentou algum tipo de universidade, mas isso era comum entre os dramaturgos da época e muitos conseguiram muito reconhecimento e respeito independentemente disso;

- certas referências contemporâneas de Shakespeare têm reforçado a tese de que as obras shakespearianas, para terem sido escritas, não precisariam de uma quantidade pouco usual de ensino: a homenagem de Ben Jonson, no First Folio de 1623, afirma que as peças eram de muita grandiosidade, embora tivessem "um latim pobre e pouco grego";

- Shakespeare era um homem que foi prosperando durante sua vida: várias de suas peças foram realizadas regularmente nas residências reais (corte), e, assim, talvez ele tenha se envolvido com a aristocracia, de tal forma que conseguiu conhecê-la mais de perto;

- argumento sobre a classe social é reversível: as peças contêm detalhes da classe baixa da qual os aristocratas provavelmente não tiveram conhecimento. Muitas das personagens shakespearianas mais encenadas pertencem à classe inferior, ou, pelo menos, são sempre associadas a isso;

- a maioria das observações anti-stratfordianas acreditam que o verdadeiro autor das peças viajou muito e para lugares bem distintos, uma vez que muitas das peças mostram grande atenção a locais europeus, além de apresentar alguns detalhes dessas regiões. Acerca disso, os ortodoxos respondem que diversos enredos de peças da época, escritas por outros dramaturgos, tinham como locações lugares estrangeiros, e o estilo de Shakespeare era inteiramente convencional a esse respeito;

- um panfleto de 1592, do dramaturgo Robert Greene, que contém uma sátira na qual Greene chama um determinado dramaturgo de sua época de “Shake-scene”, ou, literalmente, abalador de cena;

- a riqueza de detalhes em suas obras como O Mercador de Veneza na qual demonstra conhecimentos detalhados sobre a cidade, como o fato de que o Duque manteve dois votos na Câmara Municipal, e sobre um prato de pombas cozidas foi, em uma época, dado de presente a um dom em sua homenagem, no norte italiano. Shakespeare também utilizou o termo local traghetto para referir-se ao modo de transporte veneziano;

- O monumento da tumba de Shakespeare em Stratford, construída uma década após sua morte, apresenta-o, atualmente, com uma caneta à mão, o que sugere que ele era conhecido como dramaturgo, poeta;

- Anne e sua filha Judith eram analfabetas, sugerindo que o pai não ensinou seus filhos nem a ler ou escrever, mas isso não implica muito questionamento, pois era comum mulheres da classe média serem analfabetas, no século XVII;





quinta-feira, 24 de abril de 2014

WILLIAM SHAKESPEARE - STRATFORDIANOS E ANTI-STRATFORDIANOS


WILLIAM SHAKESPEARE

STRATFORDIANOS E ANTI-STRATFORDIANOS

A controvérsia, desde então, gerou um vasto corpo de literatura, vários candidatos à autoria têm sido propostos. Aqueles que questionam a autoria de Shakespeare são chamados de anti-stratfordianos, e aqueles que não possuem dúvidas e acreditam na autoria são chamados de Stratfordianos (alusão à cidade natal do escritor).

Os anti-stratfordianos são divididos em três outras teorias: Baconiana, Marloviana e Oxfordiana, dependendo de quem eles dão o título de autor das peças: Francis Bacon, Christopher Marlowe e Eduardo de Vero (Conde de Oxford), respectivamente. Esses são os mais fortes candidatos atualmente.



WILLIAM SHAKESPEARE - DÚVIDAS SOBRE A AUTORIA


WILLIAM SHAKESPEARE

DÚVIDAS SOBRE A AUTORIA


Este capítulo expõe aspectos sobre autoria do escritor e as dúvidas relevantes que recaem sobre sua autenticidade e até sobre sua existência. Reunimos o máximo possível de proposições e especulações que, de uma forma ou de outra, buscam demolir o cabedal criativo do escritor sombreando sua genialidade e a sua produção literária.

Há um surpreendente consenso, tanto por parte dos céticos quanto dos que defendem a autoria de Shakespeare, sobre o momento em que a controvérsia começou. Ao se buscarem os fatos a respeito, seja no Dictionary of National Biography (Dicionário de Biografias Nacionais, que é um padrão de trabalho de referência sobre figuras notáveis ​​da história britânica, publicados a partir de 1885), ou em qualquer outro meio, a mais antiga alegação documentada remonta a 1785, quando James Wilmot, um acadêmico de Oxford, e que viveu a alguns poucos quilômetros de Stratford-upon-Avon, começou a procurar no local, livros, papéis ou qualquer indicação de que Shakespeare tivesse sido um escritor – e acabou de mãos vazias.

A primeira negação absoluta da autoria de Shakespeare foi feita pelo reverendo James Wilmot (1726 - 1807 - foi um inglês clérigo e estudioso) no século XIX. Vasculhando cada biblioteca particular dentro de um raio de 50 quilômetros, ele foi incapaz de encontrar qualquer livro que poderia ser provado como pertencido a Shakespeare. Ele começou a suspeitar da autoria realizando paralelos entre as peças escritas por Bacon, relacionados com sua filosofia e pensamentos no comparativo com Shakespeare em suas “obras”. No entanto, preocupado que seus pontos de vista não poderiam ser levados a sério, Wilmot destruiu todas as provas de sua teoria, confiando suas descobertas apenas a Cowell que, posteriormente, mencionou a colegas da Sociedade Filosófica de Ipswich (Inglaterra), em 1805, que havia um manuscrito em duas partes o qual fora feito por Wilmot em duas palestras: Algumas reflexões sobre a vida de William Shakespeare. Depois muitas teorias e estudiosos divergem sobre esse tema. 



terça-feira, 22 de abril de 2014

PAPO DE COXIA - TEATRO DE REVISTA


TEATRO DE REVISTA


O teatro de revista brasileiro tem início em 1859, no Teatro Ginásio, no Rio de Janeiro, com o espetáculo As Surpresas do Sr. José da Piedade, de Justiniano de Figueiredo Novaes. Assim como o nosso teatro musicado surge como um derivado da opereta francesa, a revista também recorre ao modelo francês: um enredo frágil serve como elo de ligação entre os quadros que, independentes, marcam a estrutura fragmentária do gênero. Seu ingrediente mais poderoso é a paródia, recurso do teatro popular que consiste em denegrir um aspecto, fato, personagem, discurso ou atitude proveniente da cultura erudita ou, em outras palavras, da classe dominante.

Nessa primeira fase do gênero, que tem seu apogeu com as revistas e burletas de Artur Azevedo, a linguagem é marcada pela valorização do texto em relação à encenação, e pela crítica de costumes abordada com versos e personagens alegóricos. Nas revistas de ano, apresentadas ao início de cada ano como resumo cômico do ano anterior, as cenas curtas e episódicas que parodiam acontecimentos reais são ligadas por um tênue fio narrativo em geral conduzido por um grupo de personagens que transita pelo Rio de Janeiro à procura de alguma coisa - o que possibilita a abordagem de lugares distintos como a rua, os teatros, a imprensa, o jóquei.

Na segunda década do século XX, Pascoal Segreto funda a Companhia Nacional de Revistas e Burletas, no Teatro São José, na Praça Tiradentes. Na década de 20, a vinda da companhia francesa Ba-ta-clan traz novas influências para o gênero: desnuda o corpo feminino, despindo-o das grossas meias. O corpo feminino passa então a ser mais valorizado em danças, quadros musicais e de fantasia, não apenas como elemento coreográfico, mas também cenográfico. A companhia de Jardel Jércolis substitui a orquestra de cordas pela banda de jazz e a performance física do maestro passa a fazer parte do espetáculo, demonstrando a influência dos ritmos americanos. Em 1924, Manoel Pinto se instala no Teatro Recreio e inicia um período de grandes espetáculos, que passa a abrigar autores e atores próprios. Em seguida, transfere-se para o Teatro João Caetano, na Praça Tiradentes, como Companhia de Revistas Margarida Max. Nessa segunda fase, a revista é movida por poucos e grandes nomes que levam o público ao teatro: existe mesmo uma "rivalidade amigável" entre as primeiras estrelas de cada companhia na disputa pela preferência dos espectadores. É uma fase em que a revista se equilibra entre quadros cômicos e de crítica política, e os números musicais e de fantasia.

A terceira fase do teatro de revista se deve à gestão de Walter Pinto, à frente dos negócios do pai, que falece em 1938. Sua companhia substitui o interesse dos primeiros atores pela credibilidade da empresa na produção de grandes espetáculos, em que um elenco formado por numerosos artistas se reveza em cada temporada. A direção investe na ênfase à fantasia, por meio do luxo, de grandes coreografias, cenários e figurinos suntuosos. A maquinaria, a luz e os efeitos equivalem ao intérprete em importância. Mas, aos poucos, a revista começa a apelar fortemente para o escracho, para o nu explícito, em detrimento de um de seus alicerces: a comicidade, e, assim, entra em um período de decadência, praticamente desaparecendo na década de 1960.

A pesquisadora Neyde Veneziano assim resume a alma e a importância do teatro de revista: "Ao se falar em teatro de revista, que nos venham as idéias de vedetes, de bananas, de tropicália, de irreverência e, principalmente, de humor e de música, muita música. Mas que venha também a consciência de um teatro que contribuiu para a nossa descolonização cultural, que fixou nossos tipos, nossos costumes, nosso modo genuíno do 'falar à brasileira'. Pode-se dizer, sem muito exagero, que a revista foi o prisma em que se refletiram as nossas formas de divertimento, a música, a dança, o carnaval, a folia, integrando-os com os gostos e os costumes de toda uma sociedade bem como as várias faces do anedotário nacional combinadas ao (antigo) sonho popular de que Deus é brasileiro e de que o Brasil é o melhor país que há".



A VIDA DE WILLIAM SHAKESPEARE - PEÇAS, LINGUAGEM E PERSONAGENS

A VIDA DE WILLIAM SHAKESPEARE

PEÇAS, LINGUAGEM E PERSONAGENS

Em 1623, John Heminges e Henry Condell (atores), dois amigos de Shakespeare no King's Men, publicaram uma compilação póstuma das obras teatrais de Shakespeare, conhecida como First Folio. De suas obras restaram, até os dias de hoje, 38 peças,154 sonetos, dois longos poemas narrativos, e diversos outros poemas. Shakespeare produziu a maior parte de sua obra entre 1590 e 1613.

É impossível estabelecer as datas exatas das obras de Shakespeare, mas pode-se classificá-las em quatro grupos, que representam os períodos de sua vida, da juventude à velhice: as obras do primeiro período são marcadas por sonhos juvenis e pelo espírito exuberante; o segundo período foi o das grandes crônicas e comédias românticas; o terceiro período foi a depressão e a tristeza que as marcaram (motivo da desilusão que levou o dramaturgo a sentir-se deprimido durante essa fase da vida, não se sabe ao certo); o quarto período, a tempestade abrigada no espírito de Shakespeare parece ter desvanecido. Três categorias: tragédia, história e comédia pertencem a sua produção literária.

Outro ponto importante é observar a composição das personagens shakespearianos. A maioria delas está inserida em situações comuns aos ingleses. Além disso, as personalidades chamavam a atenção, pois iam desde reis enlouquecidos pelo poder, até a história de amores proibidos. Outros ainda habitavam mundos fantásticos e traziam à tona grandes nomes da história antiga. As peças shakespearianas, de modo geral, retrataram uma variedade gigantesca de emoções. Acredita-se que Shakespeare utilizou recursos antigos, como o folclore, a mitologia e certas lendas para compor suas peças. Sua proximidade com a natureza humana fez-lhe maior do que qualquer um de seus contemporâneos. Humanismo e contato com o pensamento popular deu vitalidade ao seu idioma.

Shakespeare usou como ninguém a linguagem para explorar personalidades complexas, criar climas variados e controlar enredos estonteantes, recheados de identidades marcantes e misteriosas. 





A VIDA DE WILLIAM SHAKESPEARE - SEXUALIDADE DE SHAKESPEARE

A VIDA DE WILLIAM SHAKESPEARE



SEXUALIDADE DE SHAKESPEARE

A sexualidade de William Shakespeare foi questionada várias vezes ao longo das décadas e ainda causa polêmica. Provas circunstanciais (presentes em suas peças e, especialmente, em sonetos shakespearianos) sugerem que ele mantinha relações com outras mulheres e que até pode ter se envolvido num interesse erótico por homens. 

Essa hipótese foi assegurada por John Mannigham, estudante de advocacia, o qual escreveu em seu diário que Shakespeare havia tido uma breve relação com uma mulher, durante os anos da performance de Richard III.

Possíveis elementos de um dos vinte e seis Sonetos de Shakespeare são dirigidos a uma mulher casada, figurada como Dark Lady.

O Soneto 151 é o 151 de 154 poemas em forma de soneto que foi publicado em uma coleção de 1609, intitulado SHAKE-Speares SONETOS. O soneto pertence ao Dark Lady sequência (sonetos 127-152), que se distingue do A Feira da Juventude sequência, por ser mais abertamente sexual em sua paixão. O Soneto 151 é caracterizado como "obsceno" e é usado para ilustrar a diferença entre o amor espiritual para a Feira da Juventude e o amor sexual para a Dark Lady . 

O Fair Youth é o jovem sem nome a quem os sonetos de 1 a 126 são abordados. Alguns comentaristas, observando a linguagem romântica e amorosa usada nessa sequência de sonetos, têm sugerido uma relação sexual entre o autor e o jovem, outros leram como relação de amor platônico.

John Manningham (1622) foi um advogado inglês e diarista, contemporâneo da época elisabetana e jacobina e uma fonte importante sobre a vida e o mundo dramático de Londres. Para os elisabetanos daquele período, o que hoje é denominado homossexualidade ou bissexualidade era conhecido apenas como um ato sexual simples e, no que se refere à sexualidade de Shakespeare, não existe sequer uma prova que o considere bissexual ou homossexual; porém, todas as teorias sobre esse assunto oriundam de uma análise embasada em suas peças e, em particular, de determinados sonetos seus.

As aventuras londrinas de Shakespeare em Nada Como o Sol de Anthony Burgess (1917-1993, escritor, compositor e crítico britânico) incluem uma relação homossexual com o Duque de Southampton – a quem o poeta dedicou, de fato, poemas como “Vênus e Adônis”; e teria havido a paixão por uma exótica mulher oriental de pele escura (ela seria a dama negra, misteriosamente aludida em alguns sonetos). (BURGESS, 2003, p. 54)

















A VIDA DE WILLIAM SHAKESPEARE - MORTE

A VIDA DE WILLIAM SHAKESPEARE

MORTE

O fato é que William Shakespeare morreu aos 52 anos, no dia 23 de abril de 1616, e foi enterrado dois dias depois, na Igreja de Holy Trinity, em sua cidade natal. Anne Shakespeare, sua viúva, viria a morrer sete anos mais tarde, em 1623, o ano da publicação do Primeiro fólio, sendo enterrada ao lado do marido. Não se sabe como Shakespeare morreu, apesar de haver muita especulação em torno de sua morte. Alguns biógrafos, como Park Honan em Shakespeare: uma vida (1998), acreditam que Shakespeare se encontrava doente havia já algum tempo e morreu em decorrência de uma febre. Outros, mais afeitos a sensacionalismos, preferem a versão de que a febre foi devida a uma noitada de bebedeiras com Ben Jonson e Michael Drayton, por ocasião da visita dos dois ao poeta em Stratford. 

Michel Dryton (1563 - 1631) era um inglês, poeta que ganhou destaque na era elisabetana. Era ativo em escrever para o teatro, mas ao contrário de Shakespeare e Ben Jonson, ele investiu pouco sua arte no gênero. Por um período de apenas 5 anos, 1597-1602.

Benjamin Jonson (1572 - 1637) foi um dramaturgo, poeta e ator inglês da Renascença, contemporâneo de Shakespeare. Entre suas peças mais conhecidas estão Volpone, The Alchemist (O Alquimista) e Bartholomew Fair: A Comedy (A Feira de São Bartolomeu: uma Comédia). Ben Jonson foi mestre na produção de mascaradas, entretenimentos festivos que utilizavam a música, a dança e o canto em cuidadosa coreografia. Dotado de uma genialidade multiforme, sua obra conta não apenas com peças teatrais, mas com a poesia lírica, o epigrama, a crônica, o gênero epistolar, as traduções e até a gramática.

O túmulo de Shakespeare mostra uma estátua vibrante, em pose de literário, mais vivo do que nunca. A cada ano, na comemoração de seu nascimento, é colocada uma nova pena de ave na mão direita de sua estátua. Como de costume de sua época, em que provavelmente havia a necessidade de esvaziar as mais antigas sepulturas para abrir espaços a novas, o escritor tendo esse receio, “exigiu” que fosse escrito em sua lápide um epitáfio, que anunciava a maldição de quem movesse seus ossos. Esse fator gera polêmica em muitos estudiosos sobre essa atitude: teria o autor realmente medo de que revirassem seus ossos? Teria algo escondido em seu túmulo? Poderia haver escritos (obras) que ele jamais gostaria que fossem encontradas?

Após a morte de Elizabeth I e Shakespeare, os demais dramaturgos da época não foram prejudicados. Jaime I, o sucessor da rainha, contribuiu para o florescimento artístico e cultural inglês; era um apaixonado por teatro.

terça-feira, 15 de abril de 2014

PAPO DE COXIA - REALISMO

REALISMO

Foi um movimento artístico e literário surgido nas últimas décadas do século XIX na Europa, mais especificamente na França, em reação ao Romantismo.Entre 1850 e 1880 o movimento cultural, chamado Realismo, predominou na França e se estendeu pela Europa e outros continentes. Os integrantes desse movimento repudiaram a artificialidade do Neoclassicismo e do Romantismo, pois sentiam a necessidade de retratar a vida, os problemas e costumes das classes média e baixa não inspirada em modelos do passado. 

Entende-se por "Realismo Literário" um estilo de escrita que toma a realidade como princípio orientador de criação artística por meio da palavra. Neste sentido, o Realismo pode ser percebido em texto de qualquer época, desde as primeiras manifestações da humanidade até hoje, mas como movimento relativamente organizado, começou na segunda metade do século XIX, na França, difundindo-se por todos os países da Europa, com oposição declarada, ou não, ao sentimento romântico. O movimento realista correspondeu à ascensão da pequena burguesia. O pensamento filosófico que exerceu mais influência no surgimento do Realismo foi o Positivismo. Ao contrário do gosto da alta burguesia, interessada no jogo vazio das formas artísticas (a "arte pela arte"), motivou-a uma arte voltada a solução dos problemas sociais, isto é, uma arte "engajada" de "compromissos", que se colocava também contra o tradicionalismo romântico e procurava incorporar os descobrimentos científicos de seu tempo. O Naturalismo é uma espécie de prolongamento do Realismo. Não chegaram a ser movimentos literários distintos, tanto é que muitos autores são simultaneamente realistas e naturalistas, sendo o Naturalismo cronologicamente posterior ao Realismo. Para muitos, o Realismo representava uma alternativa do que era visto como um isolamento ou mesmo um elitismo da vanguarda — ponto de vista que ganhou apoio a partir da adoção do Realismo Socialista como a forma oficial de arte da União Soviética. Contudo, outras vozes insistiam em que a vanguarda possuía um papel a exercer no desenvolvimento de um realismo moderno adequado às condições do século XX. 

Em geral, os realistas retratavam temas e situações em contextos contemporâneos do cotidiano, e tentaram descrever indivíduos de todas as classes sociais de uma maneira similar. O idealismo clássico, o emocionalismo romântico e drama foram evitados de forma igual, e muitas vezes os sórdidos ou não cuidados elementos de temas não foram suavizados ou omitidos. O realismo social enfatiza a representação da classe trabalhadora, e os tratam com a mesma seriedade que as outras classes de arte, mas o realismo, como prevenção a artificialidade, no tratamento das relações humanas e as emoções também eram um objetivo do Realismo. Tratamentos de assuntos de uma maneira heroica ou sentimental foram igualmente rejeitados

Embora alguns manuais de literatura estabeleçam uma grande ruptura entre as propostas estéticas do Romantismo e do Realismo, acreditasse que é possível considerar que há um momento de continuidade entre esses dois importantes momentos na história da literatura. O Romantismo conquistou o direito de registrar e debater os grandes momentos da história nacional dos países que floresceu; o Realismo, a seu modo, amplificou esse interesse e trouxe a reflexão sobre a realidade social e política para o centro das narrativas realistas.

Com o realismo, problemas do cotidiano das camadas sociais mais baixas ocupam os palcos. O teatro, inclusive o realista e o naturalista, era definido pelo fato de que não só ilustrava o que se desviava da melhor sociedade, mas também suplantava a vida real pela forma do drama. O herói romântico é substituído por personagens do dia a dia e a linguagem torna-se coloquial. A primeira grande obra dramática realista é A Dama das Camélias, de fevereiro de 1852, do francês Alexandre Dumas, filho (1824-1895). Essa peça conta a história de uma cortesã que é regenerada pelo amor, dando ao público a constatação de um mundo real, observado, sem fantasiosas e lúdicas vivências, e sim, do dia a dia que explica o comportamento dos personagens apresentados. Fora da França, um dos expoentes é o norueguês Henrik Ibsen (1828-1906), citado como o primeiro grande nome a despontar no Realismo. Em Casa de Bonecas, por exemplo, trata da situação social da mulher. Em obra Espectros, Ibsen desenvolve um comentário cáustico sobre a moralidade da sociedade norueguesa da época. O drama foi tratado duramente pelos críticos por abrir completamente a moral da sociedade ao falar de promiscuidade e doenças venéreas.

São importantes também o dramaturgo e escritor russo Máximo Gorki (1868-1936), autor de Ralé e Os Pequenos Burgueses, e o alemão Gerhart Hauptmann (1862-1946), autor de Os Tecelões.

O Realismo pode ser visto até hoje em dia, em peças teatrais como o Homem da Faixa Preta e outras.


O Realismo na literatura 


Motivados pelas teorias científicas e filosóficas da época, os escritores realistas desejavam retratar o homem e a sociedade em sua totalidade. Não bastava mostrar a face sonhadora ou idealizada da vida, como fizeram os românticos; desejaram mostrar a face nunca antes revelada: a do cotidiano massacrante, do amor adúltero, da falsidade e do egoísmo humano, da impotência do homem comum diante dos poderosos.

Uma característica do romance realista é o seu poder de crítica, adotando uma objetividade que faltou ao romantismo. Grandes escritores realistas descrevem o que está errado de forma natural, ou por meio de histórias como Machado de Assis. Se um autor desejasse criticar a postura de alguma entidade, não escreveria um soneto para tanto, porém escreveria histórias que a envolvessem de forma a inserir nessas histórias o que eles julgam ser a entidade e como as pessoas reagem a ela.

Em lugar do egocentrismo romântico, verifica-se um enorme interesse de descrever, analisar e até em criticar a realidade. A visão subjetiva e parcial da realidade é substituída pela visão objetiva, sem distorções. Dessa forma os realistas procuram apontar falhas talvez como modo de estimular a mudança das instituições e dos comportamentos humanos. Em lugar de heróis, surgem pessoas comuns, cheias de problemas e limitações. Na Europa, o realismo teve início com a publicação do romance realista Madame Bovary (1857) de Gustave Flaubert

Alguns expoentes do realismo europeu: Gustave Flaubert, Honoré de Balzac, Eça de Queirós, Charles Dickens.


Realismo no Brasil 


A partir da extinção do tráfico negreiro, em 1850, acelera-se a decadência da economia açucareira no Brasil e o país experimenta sua primeira crise depois da Independência. O contexto social que daí se origina aliado à leitura de grandes mestres realistas europeus como Stendhal, Balzac, Dickens e Victor Hugo, propiciaram o surgimento do Realismo no Brasil.

Assim, em 1881, houve um marco na literatura no Brasil, Aluísio Azevedo publica O Mulato (primeiro romance naturalista brasileiro) e Machado de Assis publica Memórias Póstumas de Brás Cubas (primeiro romance realista do Brasil). 

Machado de Assis foi um grande crítico e escritor do Realismo e também do Romantismo no Brasil, suas principais obras foram: Memórias Póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba e Dom Casmurro. No artigo "Instinto de Nacionalidade" (1999), Machado critica o principal ponto de honra do Romantismo brasileiro: o tema nacionalista. Ele vai dizer, em poucas palavras, que para ser brasileiro não é necessário falar sempre de imagens nacionalistas ou de símbolos — como a natureza exuberante do Brasil, ou mesmo a figura do índio como marca nacional. Em relação ao Realismo, Machado sempre se manteve alheio aos preceitos explícitos da Escola. 

Desde o seu início, o realismo brasileiro foi sobre tudo urbano, muitas vezes retratando a vida na cidade do Rio de Janeiro, como já fazia em pleno romantismo, um precursor do realismo, Manuel Antônio de Almeida (1831-1861). A novela de Manuel Antônio de Almeida ocupa um lugar especial no cenário da ficção romântica brasileira, graças à sua originalidade, seu único romance, Memórias de um Sargento de Milícias, publicado em 1852-53 sob a forma de folhetins, difere em muitos aspectos dos romances comumentes publicados em folhetins do século XIX, o que explica sua franca popularidade na época, e sua maior aceitação na posteridade. Suas narrações ganharam um caráter cômico e, ao mesmo tempo, observador, que o aproxima muito do Realismo, mais com características arcais. Por essas razões Manuel Antônio de Almeida é considerado um escritor em transição do Romantismo para o Realismo. 


NATURALISMO

O teatro do naturalismo surge paralelamente ao movimento literário do naturalismo. Seu precursor foi o escritor e dramaturgo Émile Zola.

O naturalismo reivindicava a volta dos princípios realistas do "gênero sério" de Mercier, porém de modo mais radical. Os naturalistas afirmavam que a peça teatral deveria reproduzir miméticamente a realidade.

Porém, o teatro naturalista não prega apenas um espelhamento da realidade tal como muitos afirmam, essa vertente artística buscava o entendimento da essência humana e maior vivacidade cênica, a qual havia sido "congelada" pela tradição acadêmica.


Literatura 

Os romances naturalistas destacam-se pela abordagem extremamente aberta do sexo e pelo uso da linguagem falada. O resultado é um diálogo vivo e extraordinariamente verdadeiro, que na época foi considerado até chocante de tão inovador. Ao ler uma obra naturalista, tem-se a impressão de se estar a ler uma obra contemporânea, que acabou de ser escrita. Os naturalistas acreditavam que o indivíduo é um mero produto da hereditariedade e o seu comportamento é fruto do meio em que vive e sobre o qual age.

A perspectiva evolucionista de Charles Darwin inspirava os naturalistas, que acreditavam ser a Seleção Natural impulsionadora da transformação das espécies.

Assim, predomina nesse tipo de romance o instinto, o fisiológico e o natural, retratando a agressividade, a violência, o erotismo como elementos que compõem a personalidade humana.

Os autores naturalistas criavam narradores oniscientes e impassíveis para dar apoio à teoria na qual acreditavam. Exploravam temas como a homossexualidade, o incesto, o desequilíbrio que leva à loucura, criando personagens que eram dominados pelos seus instintos e desejos, pois viam no comportamento do ser humano traços da sua natureza animal.

No Brasil, a prosa naturalista foi influenciada por Aluísio Azevedo com a obra O mulato, publicado em 1881. Esta marcou o início do Naturalismo brasileiro e a obra O cortiço, também de sua autoria, marcou essa tendência.


Émile Zola 


O francês Émile Zola foi o idealizador do naturalismo e o escritor que mais se identificou com ele. O romance experimental (1880) é considerado o manifesto literário do movimento.

As leituras de Zola sobre a teoria evolucionista de Darwin (a Origem das espécies foi publicada em 1859), A filosofia da arte (1865), "um grande estudo fisiológico e psicológico". O que Claude Bernard tinha desvendado no corpo humano, Zola iria desvendar na sociedade. 

Em 1881 Zola lança sua obra-prima Germinal. Para escrevê-lo, o autor não se contentou com a pesquisa, foi direto à fonte. Passou dois meses trabalhando como mineiro na extração de carvão. Viveu com os mineiros, comeu e bebeu nas mesmas tavernas para se familiarizar com o meio. Sentiu na carne o trabalho sacrificado, a dificuldade em empurrar um vagonete cheio de carvão, o problema do calor e a umidade dentro da mina, o trabalho insano que era necessário para escavar o carvão, a promiscuidade das moradias, o baixo salário e a fome. Além do mais, acompanhou de perto a greve dos mineiros, por isso sua narração é tão impactante. A força de Germinal causou enorme repercussão, consagrando Émile Zola como um dos maiores escritores de todos os tempos.


Teatro 

No teatro, o naturalismo exerceu mudanças marcantes, com o surgimento do diretor, do cenógrafo e do figurinista. Até então, o próprio ator escolhia suas roupas, um único cenário era usado para diversas montagens, e não estava definida a posição do diretor como coordenador de todas as funções. A iluminação passou a ser mais estudada e adotou-se a sonoplastia. É um radicalismo do Realismo.


Naturalismo no Brasil 


No Brasil, as primeiras obras naturalistas são publicadas em 1880, sendo influenciadas pela leitura de Émile Zola.

Pela primeira vez, a literatura pôs em primeiro plano o pobre, o homossexual, os negros e os mulatos discriminados.




TEATRO REALISTA E NATURALISTA - SEMELHANÇAS E DIFERENÇAS


O Realismo e o Naturalismo apresentam semelhanças e diferenças entre si. O Realismo trata o homem interagindo com seu meio social, enquanto o Naturalismo mostra o homem como produto de forças “naturais”, desenvolve temas voltados para a análise do comportamento patológico do homem, de suas taras sexuais, de seu lado animalesco. 

Realismo - Movimento artístico da segunda metade do século XIX. Caracteriza-se pela intenção de uma abordagem objetiva da realidade e pelo interesse por temas sociais. O engajamento ideológico faz com que muitas vezes a forma e as situações descritas sejam exageradas para reforçar a denúncia social. O realismo foi uma reação ao subjetivismo do romantismo. Sua radicalização rumo à objetividade sem conteúdo ideológico leva ao naturalismo. Muitas vezes realismo e naturalismo se confundem.

Os naturalistas acreditavam que o indivíduo é mero produto da hereditariedade e seu comportamento é fruto do meio em que vive e sobre o qual age. A perspectiva evolucionista de Charles Darwin inspirava os naturalistas, esses acreditavam ser a seleção natural que impulsionava a transformação das espécies. Assim, predomina nesse tipo de romance o instinto, o fisiológico e o natural, retratando a agressividade, a violência, o erotismo como elementos que compõe a personalidade humana. 

O Naturalismo pode ser entendido como um prolongamento do Realismo. As duas estéticas são quase paralelas. O Naturalismo, na verdade, apresenta praticamente todos os princípios e características do Realismo, tais como o predomínio da objetividade, da observação e da verossimilhança. O seu dado particular é a visão cientificista da existência. Nesse sentido, o homem é o produto de seu meio, com o qual se confunde e do qual se mostra preso. 

Nos romances naturalistas, as fantasias e idealizações românticas cedem espaço à instintividade, às relações luxuriosas, às taras, à indignidade e aos crimes.

A VIDA DE WILLIAM SHAKESPEARE - CASAMENTO

A VIDA DE WILLIAM SHAKESPEARE

CASAMENTO


Em 1582, aos 18 anos de idade, casou-se com Anne Hathaway, que era provavelmente a filha mais velha de Richard Hathaway, de Shottery, um vilarejo próximo de Stratford. O pai de Anne era um importante agricultor de Warwickshire, tinha uma boa casa e muitas terras. Shakespeare tinha 18 anos, e Anne 26, e por isso o pai do rapaz teve que dar a permissão; e o casamento foi autorizado pelo bispo de Worcester. Estudos convergem sobre a pressa no casamento. Muitos apontam que Anne estava grávida, e outros, que a família e Shakespeare vislumbravam uma vida mais próspera devido aos bens da família da moça. Os dois foram morar na casa dos pais de William. Pouco tempo depois, em 1583, nasce Susanna, filha mais velha do casal. Posteriormente, em 1585, o casal teve os gêmeos Hamnet e Judith. Anne é uma das personagens mais misteriosas na vida de Shakespeare – os registros não esclarecem muito a respeito dela. Muitos biógrafos sugerem que o casal foi infeliz, mas nada foi comprovado. Anne aparece no testamento do escritor, no qual ele lhe deixou o seguinte trecho: “Deixo para minha esposa minha segunda melhor cama”, conforme consta do testamento de Shakespeare, 1616.

Isso gera uma série de especulações sobre o significado de tal herança. Especula-se que ele poderia estar se referindo à cama de hóspedes que, na época, era de costume oferecer aos convidados e era a melhor da casa; ou, alternativamente, ao leito conjugal que tinham compartilhado. Outra suposição é se ele teria sido deliberadamente maldoso com a esposa no testamento, ou estaria simplesmente partindo do pressuposto de que um terço de sua propriedade – a cota da viúva – seria automaticamente dela. O escritor inglês Anthony Burgess tem uma explicação ficcional sobre esse assunto. Em Nada como o Sol, um livro de sua autoria, ele cita Shakespeare espantado, em um quarto diante de seu irmão Richard e de sua esposa Anne: estavam nus e abraçados. (BURGESS, 2003, p. 35)

Até hoje não se tem fatos concretos do porquê de Shakespeare ter ido para Londres. Alguns dizem que foi para enriquecer e sustentar a família, e outros, pela infelicidade que vivia com a esposa. Há muitos relatos de que ele ia visitar a família muitas vezes por ano. 



segunda-feira, 14 de abril de 2014

PAPO DE COXIA - IBSEN

IBSEN


Henrik Johan Ibsen (18281906) foi um dramaturgo norueguês, considerado um dos criadores do teatro realista moderno. Foi o maior dramaturgo norueguês do Século XIX. Foi também poeta e diretor teatral, sendo considerado o “pai do drama em prosa” e um dos fundadores do modernismo no teatro

Muitas de suas peças foram consideradas escandalosas na época em que foram lançadas, mediante o fato de o teatro europeu estar sujeito ao modelo determinado pela vida familiar e pela propriedade. Os trabalhos de Ibsen analisavam a realidade contida por trás das convenções e costumes, o que trouxe muita inquietação para seus contemporâneos. Ele lançou um olhar crítico e a livre investigação sobre as condições de vida e as questões da moralidade da época. 

Ibsen é muitas vezes classificado como um dos verdadeiramente grandes dramaturgos da tradição europeia. Richard Hornby o descreve como "um profundo e poético dramaturgo — o melhor desde Shakespeare". Ele influenciou outros dramaturgos e romancistas, tais como George Bernard Shaw, Oscar Wilde, James Joyce e Eugene O'Neill. Muitos críticos o consideram o maior dramaturgo desde Shakespeare.

Ibsen viveu por 27 anos na Itália e Alemanha e raramente visitou a Noruega durante seus anos mais produtivos.

Ibsen nasceu na pequena cidade portuária de Skien, em Telemark, uma cidade que se ocupava do transporte de madeiras. 

Knud Ibsen veio de uma longa linhagem de marinheiros (capitães), mas decidiu se tornar um comerciante, alcançando sucesso inicial. Seu casamento com Maria Cornélia Altenburg foi "um arranjo familiar excelente. A mãe de Maria Cornélia e o padrasto de Knud foram como irmãos, cresceram juntos. Maria Cornélia Altenburg era filha de um dos mais ricos comerciantes madeireiros na próspera cidade de Skien”.

Quando Henrik Ibsen tinha cerca de sete anos de idade, no entanto, a sorte de seu pai deu uma guinada significativa para o pior, e a família acabou por ser forçada a vender o edifício principal dos Altenburg no centro de Skien, e mudar-se definitivamente para sua casa de verão de pequeno porte, Venstøp, fora do da cidade. Tal mudança influenciou definitivamente o comportamento de Ibsen que, já tímido por natureza, tornou-se mais isolado. A atmosfera familiar também era difícil, pois o pai era um homem dominador e alcoolista, e sua mãe uma mulher submissa, que buscava conforto na religião. Suas maiores distrações na infância eram o desenho e a pintura, paixões que manteve, pois conservou sempre consigo uma coleção de quadros que adquirira..

A família Ibsen acabou se mudando para uma casa da cidade, Snipetorp, de propriedade do meio-irmão de Knud Ibsen, o rico banqueiro e armador Christopher Blom Paus. Sua formação teria uma forte influência no trabalho posterior de Ibsen; os personagens em suas peças, muitas vezes eram espelho de seus pais, e seus temas muitas vezes lidavam com questões de dificuldade financeira, bem como conflitos morais decorrentes de segredos escondidos da sociedade. Ibsen usaria tanto o nome quanto o modelo de personagens inspirados em sua própria família.

Na adolescência, Ibsen apaixonou-se pela teologia e se tornou grande leitor da Bíblia, porém pouco pode se dedicar a tal estudo, pois aos dezesseis anos, mediante as precárias condições da família, teve que escolher uma profissão, mudando-se para a cidade de Grimstad, onde passou a trabalhar como aprendiz do farmacêutico, aí permanecendo por cinco anos. Em 1846, quando Ibsen tinha 18 anos, nasce Hans Jacob Henriksen, filho ilegítimo de Ibsen e Else Sophie, uma das criadas de Reimann, que Ibsen assumiu e sustentou imbuído pelo senso do dever, mas nunca o viu. A farmácia passou, depois, a ter um novo proprietário, o qual dá mais liberdade a Ibsen, que passa a administrar a farmácia praticamente sozinho. Conhece o músico Christojher Due e o estudante de direito Ole Shulerud, e a farmácia passa a ser um local de encontro de jovens que discutiam política, sociologia e literatura da época.

Ibsen pretendia, nessa época, estudar medicina, mas foi reprovado nos exames de admissão à universidade, passando a se dedicar, então, apenas à literatura. Sua primeira obra para teatro foi escrita ainda em Grimstad, em 1849, Catilina, que na época foi rejeitada pelos editores, e que foi publicada um ano depois, sob o pseudônimo "Brynjolf Bjarme". Sua segunda peça, Kjaempehoien (Túmulo de gigantes), compõe-se de um só ato e foi representada no teatro real de Cristiânia, atual Oslo, em 1850, mas recebeu pouca atenção.

A principal fonte de inspiração de Ibsen foi aparentemente o autor norueguês Henrik Wergeland e os contos populares noruegueses tais como recolhidos por Peter Christen Asbjørnsen e Jørgen Moe. Na juventude de Ibsen, Wergeland foi o mais aclamado, e de longe o mais lido poeta e dramaturgo norueguês.


Carreira literária

Produziu algumas sátiras, como "Norma", e poesias, como "A Epopeia" e "Helze Hundingsbone", adquirindo alguma celebridade. Foi designado, então, para diretor de cena num pequeno teatro de Bergen, o "Det Norske Theater", em Bergen, onde esteve envolvido na produção de mais de 145 execuções como escritor, diretor e produtor. Escreveu quatro peças, entre elas "Madame Inger em Ostraat", em 1855. "A Festa em Solhaug", de 1856, foi seu primeiro sucesso popular, resultando no convite para uma festa na casa da escritora Magdalene Thoresen, onde conheceu sua futura esposa, Suzannah Daae Thoresen, filha da escritora. Em 1858 casou com Suzannah e em 1859 nasceu o único filho do casal, Sigurd.

Ibsen voltou para Cristiânia e assumiu o Norwegian Theatre, em 1857, e após a falência desse teatro, assumiu a direção do Teatro de Cristiânia Theatre, escrevendo então "Os Guerreiros em Helgeland" em 1858, e a sátira "A Comédia do Amor", em 1862, essa idealizada inicialmente em prosa, mas transformada depois em versos. Nesta obra inicia sua luta contra as mentiras sociais, no caso específico, a hipocrisia do amor.

Em 1861, descontente com suas dívidas, doenças e com a pouca valorização atribuída à sua literatura, chegou a pensar em suicídio. Ele se casou com Suzannah Thoresen em 18 de junho de 1858 e ela deu à luz seu único filho, Sigurd Ibsen, em 23 de Dezembro de 1859. O casal vivia em péssima situação financeira e Ibsen tornou-se muito desiludido com a vida na Noruega. Em 1864, deixou a Cristiânia e foi para Sorrento, na Itália, em exílio auto-imposto. Nessa época, iniciou uma verdadeira polêmica com o escritor democrata Björnstjerne Björnson, através de correspondência. Ele não retornaria à sua terra natal nos próximos 27 anos, e quando retornou, foi como um famoso, mas controverso, dramaturgo.

Sua peça seguinte, Brand (1865), foi para trazê-lo à aclamação da crítica e ao sucesso financeiro, como a peça seguinte, "Peer Gynt" (1867).

Com o sucesso, Ibsen se tornou mais confiante e começou a introduzir mais e mais de suas próprias crenças e julgamentos nos dramas, explorando o que ele chamou de o "drama de idéias". Sua próxima série de peças é muitas vezes considerada o Golden Age, quando entrou no auge de seu poder e influência, tornando-se o centro da controvérsia dramática em toda a Europa.

Ibsen mudou da Itália para a Dresden, Alemanha, em 1868, onde passou anos escrevendo a peça que ele considerava como sua principal obra, "Imperador e Galileu" (1873), dramatizando a vida e os tempos do imperador romano Juliano, o Apóstata. Embora o próprio Ibsen sempre tenha olhado essa peça como a pedra angular de sua obra inteira, muito poucos partilharam a sua opinião, e suas obras seguintes seriam muito mais aclamadas. Ibsen mudou para Munique em 1875 e publicou "Casa de Bonecas" em 1879. A peça é uma crítica mordaz aos papéis conjugais aceitos por homens e mulheres que caracterizou a sociedade da época de Ibsen.

"Espectros" se seguiu em 1881, apresentando outro comentário mordaz sobre a moralidade da sociedade de Ibsen, em que uma viúva revela ao seu pastor que havia escondido os males de seu casamento para a sua duração. O pastor a aconselhara a se casar com seu noivo, apesar de sua promiscuidade, e ela fez isso na crença de que seu amor iria reformá-lo. Mas essa promiscuidade continuou até sua morte, e seus vícios são passados para seu filho na forma de sífilis. A menção da doença venérea, para mostrar como ela pode envenenar uma família respeitável, foi considerada intolerável.

Em "Um Inimigo do Povo" (1882), Ibsen foi ainda mais longe. Em peças anteriores, elementos controversos foram componentes importantes e até mesmo fundamentais na ação, mas eles foram em pequena escala de cada família. Em "Um Inimigo", a controvérsia tornou-se o foco principal, e foi o antagonista de toda a comunidade. A mensagem principal da peça é que o indivíduo que está sozinho é mais "certo" do que a massa de pessoas, que são retratados como ignorantes e carneiros. A crença da sociedade contemporânea era a de que a comunidade era uma instituição na qual se podia confiar, mas Ibsen apresenta a contestação dessa noção. Em "Um Inimigo do Povo", Ibsen critica não só o conservadorismo da sociedade, como também o liberalismo da época. Ele ilustrou como as pessoas de ambos os lados do espectro social poderiam ser iguais. "Um Inimigo do Povo" foi escrito como uma resposta às pessoas que haviam rejeitado o seu trabalho anterior, "Espectros". O enredo da peça é um olhar velado na forma como as pessoas reagiram à trama de “Espectros”. O protagonista é um médico em um local de férias, cujo principal objetivo é construir um banho público. O médico descobre que a água está contaminada, e espera ser aclamado para salvar a cidade do pesadelo de infectar os visitantes com a doença, mas ao invés disso ele é declarado um "inimigo do povo" pelos moradores, que lutam contra ele e até mesmo atiram pedras através de suas janelas. A peça termina com o seu completo ostracismo. É óbvio para o leitor que o desastre está na construção dos banhos para a cidade, bem como para o médico.

Como as audiências agora o aguardam, a sua próxima peça novamente ataca crenças arraigadas e pressuposições, mas desta vez, seu ataque não foi contra os costumes da sociedade, mas contra os reformadores e seu idealismo. Sempre um iconoclasta, Ibsen foi igualmente disposto a derrubar as ideologias de qualquer parte do espectro político, inclusive o próprio.

"O Pato Selvagem" (1884) é por muitos considerado o melhor trabalho de Ibsen, e é certamente o mais complexo. Ele conta a história de Gregers Werle, um jovem que retorna à sua cidade natal depois de um exílio prolongado e se reencontra com seu amigo de infância Hjalmar Ekdal. Ao longo da peça, os muitos segredos que estão por trás da casa Ekdals, aparentemente feliz, são revelados por Gregers, que insiste em perseguir a verdade absoluta, ou o "Chamado do Ideal". Entre estas verdades: o pai de Gregers engravida Gina e induz Hjalmar a se casar com ela e legitimar a criança. Outro homem foi desonrado e preso por um crime cometido pelo velho Werle. Além disso, enquanto Hjalmar passa seus dias trabalhando em uma "invenção" imaginária, sua esposa está ganhando a renda familiar. Ibsen mostra uso magistral de ironia: apesar de sua dogmática insistência na verdade, nunca Gregers diz o que pensa, mas apenas insinua, e nunca é entendido até que a peça atinja seu clímax. Gregers atinge Hjalmar através de insinuações e frases codificadas até que ele percebe a verdade, que a filha de Gina, Hedvig, não é sua filha. Cegado pela insistência de Gregers sobre a verdade absoluta, ele nega a criança. Vendo o estrago que ele tem feito, Gregers determina a reparar as coisas, e sugere a Hedvig que sacrifique o pato selvagem, seu animal de estimação ferido, para provar seu amor por Hjalmar. Hedvig, sozinha entre os personagens, reconhece que Gregers sempre fala em código, e procurando o significado mais profundo na primeira revelação importante de Gregers, mata-se, em vez de o pato, a fim de provar seu amor por ele no último ato de auto-sacrifício. Só muito tarde Hjalmar e Gregers percebem que a verdade absoluta do "ideal" é às vezes demais para o coração humano suportar.

No final de sua carreira, Ibsen se voltou para um drama mais introspectivo, que tinha muito menos a ver com denúncias dos valores morais da sociedade. Nas peças posteriores, tais como "Hedda Gabler" (1890) e "Solness, o Construtor" (1892), Ibsen explorou conflitos psicológicos que transcendiam uma rejeição simples de convenções atual. Muitos leitores modernos têm encontrado nesses trabalhos posteriores o objetivo de confronto interpessoal. "Hedda Gabler" é provavelmente uma das peças mais executadas de Ibsen, com o papel-título considerado como um dos mais desafiadores e recompensadores para uma atriz, mesmo nos dias de hoje.

Em 1889, Ibsen conheceu Emilie Bardach, uma jovem da alta sociedade canadense, com a qual passou a trocar correspondência, e especula-se um possível relacionamento amoroso entre eles. Suas cartas foram publicadas após a morte de Ibsen. Vieram então "Rosmersholm", "A Dama do Mar" e, em 1890, "Hedda Gabler". Nessa tragicomédia, através da discussão do papel da mulher na sociedade o autor leva o espectador a refletir sobre a própria existência humana.

Em 1892, seu filho Sigurd casou com Bergliot, e em 1893 nasceu o neto, Tancred. Em 1894, escreveu "O Pequeno Eyolf", onde criticou o papel social da família do século XIX. No drama escrito por Ibsen, a tragédia da morte do filho Eyolf traz à tona o relacionamento do casal, com as dificuldades do compromisso social do casamento. Mediante a não realização individual, o casal deposita seus sonhos e expectativas na vida do frágil Eyolf que, numa atitude de libertação, segue a Senhora dos Ratos, personificação da morte na mitologia norueguesa.

E finalmente, em 1899, Ibsen escreveu sua última obra: "Quando Despertarmos de entre os Mortos”. Em março de 1900, Ibsen contraiu uma forte gripe, e em poucas semanas teve o primeiro derrame, e em 1901 o segundo. Em 1902 foi indicado para o Prêmio Nobel de Literatura. Em 1903, após um terceiro derrame, perdeu a capacidade manual de escrever, e morreu em 23 de maio de 1906, sendo sepultado em primeiro de junho com honras de Estado no cemitério Var Freisers.

Centenário 

O 100 º aniversário da morte de Ibsen, em 2006, foi comemorado com um "ano Ibsen" na Noruega e outros países. Este ano, a empresa de construção civil "Selvaag" também abriu o "Peer Gynt Sculpture Park", em Oslo, Noruega, em honra de Henrik Ibsen, tornando possível acompanhar a peça Peer Gynt cena a cena.

Em 23 de maio de 2006, o Museu Ibsen (Oslo) foi aberto, na casa onde Ibsen passou seus últimos 11 anos, completamente restaurado com o interior original nas cores e na decoração.


Histórico 

Durante quatro séculos a Noruega fora administrada pelos dinamarqueses. Em 1814, separa-se da Dinamarca e integra-se à monarquia da Suécia, passando a ter sua própria Constituição, em 17 de maio, considerada uma das mais liberais da Europa. O poder executivo, porém, era constituído por civis indicados e o poder legislativo eleito indiretamente pelo povo. Os noruegueses não conseguiam impedir completamente as interferências suecas, que feriam seu orgulho nacional e serviam como incentivo ao nacionalismo.

Ao longo da dominação, duas classes haviam se formado: os camponeses e os funcionários. A classe dos funcionários era constituída por toda uma variedade de participantes, desde funcionários públicos, magistrados, pastores da Igreja Luterana, advogados, médicos, universitários em geral, até comerciantes e armadores, representando a civilização ocidental do país, a classe dirigente, sob a influência dinamarquesa que os formara e a fidelidade à coroa sueca. Já a classe dos camponeses, representada também pelos pescadores, pelos pobres, era politicamente democrática e ortodoxamente religiosa, odiava o Estado, que a excluía pela falta de formação universitária. As duas classes eram incompatíveis, inclusive falavam línguas diferentes: os funcionários falavam e escreviam o Riksmaal, língua dinamarquesa comum, e os camponeses falavam o Landsmaall, antiga língua medieval, próxima do islandês e do nórdico primitivo.

A literatura norueguesa era mais precisamente um ramo da literatura dinamarquesa. A literatura norueguesa moderna, identificada como literatura independente, inicia com Henrik Wergeland, chefe dos revolucionários nacionalistas e Johan Sebastian Welhaven, chefe dos conservadores. Por volta de 1850, iniciam-se as transições sociais, que vão servir de impulso para as revoluções literárias. O jovem Ibsen era, portanto, um daqueles estudantes pobres, que buscava vencer a custa de várias privações. O escritor entra num grupo de estudantes socialistas, os primeiros da Noruega, e começa a colaborar num jornal operário criado por Thrane. A prisão de Thrane e seus assistentes convence Ibsen a abandonar as manifestações políticas, mas as ideias socialistas intensificam sua revolta contra as autoridades e contribuem para a formação de sua visão de liberdade individual.


Características literárias 

Acredita-se que a obra de Ibsen foi influenciada pelo poeta dinamarquês Adam Gottlob Oehlenschläger, que enaltecia a era viking, e pelo dramaturgo francês Eugene Scribe, autor de mais de quatrocentas peças, muitas delas produzidas por Ibsen na época em que era diretor de teatro.

Costuma-se dividir sua obra em três períodos: romântico, entre 1850 e 1873, realista, entre 1877 e 1890, e simbolista, de 1892 a 1899.

Suas peças mais famosas retratam de forma realista a vida contemporânea, e seu tema central é o dever do indivíduo para consigo mesmo, onde os conflitos psicológicos predominam sobre as situações. Seu individualismo anarquista influenciou as gerações posteriores, mas em sua vida pessoal, Ibsen era conservador.

Suas peças causaram escândalo na sociedade da época, no enfrentamento dos valores morais vitorianos da família e da propriedade, então ainda predominantes. Ibsen defendia a liberdade espiritual, que nada teme, e não se submetia a nenhuma disciplina partidária, apenas à verdade.

Ibsen reescreveu totalmente as regras de drama com um Realismo teatral, que seria adotado por Chekhov e outros, e encabeçaria suposições, desafiador e falando diretamente sobre questões que têm sido consideradas um dos fatores que transformam a peça em arte, e não entretenimento.


CASA DE BONECAS (IBSEN)


É uma peça teatral que começou a ser escrita em 1878 e foi concluída em 1879, sendo representada pela primeira vez no “Det Kongelige Teater”, em Copenhage.


Enredo 



Ato I


O livro apresenta um perfil do relacionamento entre Nora e o marido, Helmer. É época de Natal e Nora chega com uma árvore, com cuidado para que as crianças não a vejam antes de ser enfeitada. O marido conversa com ela, de forma paternal, chamando a atenção para os seus gastos exagerados, mas ao mesmo tempo mimando-a. Costuma chamá-la carinhosamente de “cotovia”, “esquilo”, “minha menininha”, de forma a tratá-la como criança travessa, ao que ela aceita e age de forma infantil e sem maiores responsabilidades, preocupada apenas em satisfazer pequenos prazeres do dia a dia, como comprar presentes e preparar a festa de Natal. Nora pergunta ao marido se já convidou Dr Rank para a festa, ele relata que sim, fala do vinho que comprou para a noite e lembra da festa do ano anterior.

Repentinamente, a criada Helena anuncia a chegada de uma mulher e do Dr. Rank, concomitantemente, e enquanto Helmer recebe Rank no escritório, Nora recebe a mulher, que inicialmente não reconhece e que depois constata ser a Sra. Cristina Linde, sua antiga colega de escola. Nora se desculpa por não ter lhe escrito quando da morte do marido, há três anos, e se apieda por Cristina ter ficado completamente só, sem filhos e sem bens. Relata estar muito feliz, pois Helmer foi nomeado, há poucos dias, diretor do Banco de Investimentos, e assumirá o posto no próximo ano, o que trará estabilidade à família, e não precisarão mais fazer economia. Nora relata para a amiga que ajudou a família fazendo pequenos trabalhos artesanais, e que Helmer adoecera, obrigando-os á passar um ano na Itália, em tratamento, com o dinheiro do pai dela. Cristina, por sua vez, relata que casara porque sua mãe estava doente e ela precisara sustentar os irmãos. Apesar disso, quando o marido morreu, precisou fazer diversos trabalhos, até que agora, com a morte da mãe e a independência dos irmãos, voltara em busca de um emprego estável, e acreditava que Helmer pudesse ajudá-la. Nora se prontificou a falar com o marido sobre o assunto.

Cristina insinua que Nora não conhece o “lado feio da vida”, que é uma “criança grande”, e Nora contesta, confidenciando-lhe que fora ela que salvara a vida do marido. Na verdade, todos pensavam que fora seu pai que os ajudara na viagem à Itália, e mediante o fato de logo ele ter logo falecido, continuaram a pensar assim, mas fora ela, Nora, quem conseguira o dinheiro, através de um empréstimo que ainda pagava com pequenos sacrifícios e economias, sem seu marido saber. A campainha toca novamente, e a criada anuncia o Sr. Krogstad, que quer falar com Helmer sobre seu cargo no banco, já que Helmer será seu patrão. Cristina o reconhece, dizendo que ele se dedica a “negócios de toda espécie”. Dr. Rank entra na sala, vindo do escritório, e é apresentado à Sra. Linde. Rank comenta sobre Krogstad, que agora se encontra no escritório de Helmer, e comenta sobre a falta e caráter dele. Quando Helmer sai do escritório, é apresentado a Cristina e, para satisfação de Nora, promete lhe conseguir algum emprego. Helmer, Dr. Rank e Cristina saem, e na saída, encontram-se com os três filhos do casal, que chegam com a governanta Ana Maria.

Nora fica a sós com os filhos e, repentinamente, Krogstad entra pela porta entreaberta, para lhe falar. Falam a sós e Krogstad pede que Nora interfira por ele com o marido, mantendo-o num bom cargo no banco, e quando Nora recusa, ele a ameaça de contar ao marido sobre o empréstimo que ele lhe fez. Nora acredita que o empréstimo está quase pago, porém Krogstad esclarece que ela não prestou atenção às condições do contrato de empréstimo. Ela assinara as promissórias, e seu pai assinara com avalista, porém a data que estava em branco fora datada três dias após o pai de Nora haver morrido, além de a assinatura e a letra não serem a do falecido. Nora admite ter ela mesma assinado o documento, e não o pai, pois ele estava doente. Krogstad ameaça levar o documento à Justiça, para prejudicar Nora e o marido, e sai. Nora fica preocupada, mas começa a arrumar a árvore de Natal, quando Helmer chega e pergunta se Krogstad lhe pedira para interceder por ele; Nora nega e disfarça envolta com os arranjos de Natal. Helmer relata que Krogstad falsificou uma assinatura, e comenta da baixeza desse ato, em especial perante o mau exemplo para os filhos; depois pede que Nora não interceda por Krogstad. Nora fica perplexa e assustada, com a possibilidade de o marido não a perdoar mais.



Ato II


No mesmo cenário, ao lado da árvore de Natal, Nora está preocupada. A governanta a ajuda com a caixa de fantasia, e Nora lhe pergunta sobre a filha, que se criou longe de Ana Maria, pelo fato de essa precisar trabalhar. Ana Maria sai e Nora fica imersa em preocupações. Cristina entra, e Nora lhe fala sobre a festa de fantasias a que ela e o marido vão comparecer à noite, no apartamento dos vizinhos do andar de cima. Enquanto costuram, Cristina lhe pergunta sobre o Dr. Rank, achando-o deprimido, e insinuando que ele seja um admirador que emprestou a Nora o dinheiro para o tratamento do marido. Nora nega, revela que Dr. Rank está doente, mas aventa a possibilidade de lhe pedir ajuda. Cristina percebe que ela está lhe escondendo alguma coisa, mas Helmer chega e Cristina se recolhe para o quarto das crianças. Nora pede delicadamente a Helmer que conserve o emprego de Krogstad no banco, mas ele recusa, pois esse será o emprego de Cristina. Nora tenta convencê-lo, mas Helmer está firme e apresenta outras razões para demiti-lo, mandando Helena levar um recado escrito para Krogstad, a sua demissão. Nora fica desesperada, e quando marido sai para o escritório Dr. Rank chega.

Dr. Rank se mostra pessimista com a própria saúde, e pede que Helmer não esteja à sua cabeceira quando falecer. Nora o consola, mostra-lhe trivialidades de sua fantasia, e Dr. Rank se mostra grato por frequentar a casa. Nora se sente à vontade com a amizade dele e se acha movida a lhe pedir ajuda, quando Rank confessa-lhe o seu amor, deixando-a embaraçada e sem coragem de lhe pedir um favor. Enquanto conversam, a criada Helena lhe traz um cartão, que Nora olha e guarda no bolso, desculpando-se com Rank e saindo. Krogstad a aguarda na cozinha.

Krogstad relata ter recebido a carta de demissão; Nora diz que nada pôde fazer, e ele relata ter em seu bolso uma carta para Helmer, contando tudo, e pede que ela o ajude, não em dinheiro, mas em reabilitação, influenciando Helmer e conseguindo-lhe um emprego mais elevado no banco. Nora não aceita e ele a ameaça, dizendo que sua reputação depende dele, depois sai e Nora o ouve colocando a carta na caixa do correio. Quando Cristina chega, Nora lhe mostra a carta na caixa, e diz ser de Krogstad, e conta a ela o que aconteceu. Mediante o desespero de Nora, Cristina pretende ir atrás de Krogstad, e sai.

Nora vai até o escritório, abre a porta e conversa com Helmer e Rank, tentando distrair o marido antes que ele vá até a caixa de correio. Tenta distraí-lo com o ensaio de dança, e pede que não abra a correspondência até depois da festa. Cristina volta; a criada os chama para o jantar. Cristina segreda a Nora que Krogstad saiu da cidade, e que ela lhe deixou um bilhete. Nora lhe diz que não está mais preocupada, pois ocorrerá um milagre e se prepara para o jantar.



Ato III



O terceiro ato ocorre na própria sala anterior. A Sra Linde está sentada, lendo, e Krogstad entra pelo vestíbulo, relatando ter recebido seu bilhete; Cristina está só, pois o casal foi no baile a fantasias, no andar de cima. Os dois revelam um relacionamento anterior, e Krogstad lhe cobra o fato de ela o ter abandonado, ao que Cristina se desculpa, pois na época tinha mãe doente e irmãos para criar, e não podia esperar pelos projetos dele, que pareciam muito distantes e assim se casou com outro. Cristina e Krogstad revelam que perceberam que ela ocuparia o lugar dele no banco. Ela sugere que fiquem juntos novamente, pois ela se sente sozinha, e ele aceita, alegremente. Krogstad pensa em voltar atrás em sua atitude com os Helmer, e decide pedir a carta de volta. Cristina o dissuade, pois relata ter visto muitas coisas naquela casa, sugerindo que seria melhor Helmer saber de tudo.

Krogstad diz que ainda precisa fazer uma coisa e que vai esperá-la, lá fora. Cristina fica feliz, por ter novamente alguém para cuidar. Nora e Helmer chegam do baile, e Cristina diz ter esperado para ver Nora fantasiada. Helmer elogia a esposa que dançou durante a festa, e sai para o quarto. Nora conversa com Cristina, perguntando se falou com Krogstad, e essa revela que Krogstad nada vai fazer, mas que o marido precisa saber de tudo; Nora nega. Helmer volta, e Cristina se despede e sai. Helmer e Nora ficam sós, e ele lhe fala de seu carinho, quando Rank chega. Conversam sobre generalidades da festa a fantasia, Rank pede um charuto e depois sai. Helmer vai até o escritório para olhar as cartas, e percebe que alguém mexeu na fechadura, tentando abri-la com um grampo. Helmer pega as cartas, Nora fica apavorada, mas Helmer encontra dois cartões de Rank, um encimado por uma cruz preta, e o casal percebe que o médico estava anunciando sua própria morte. Helmer se entristece com a perda do amigo e se fecha no escritório para ler as cartas, enquanto Nora se desespera, acreditando que o perderá, e aos filhos, para sempre. Repentinamente, Helmer abre sua porta, com uma carta nas mãos, mostrando-se incrédulo com o seu conteúdo. Nora diz que fez tudo por amá-lo, mas ele se ressente, acusando-a da falta de princípios que ela herdara do pai, julgando-a e preocupando-se com o fato de tal situação se tornar pública, expondo-os e tornando-o também suspeito. Proíbe-a de educar os filhos, e preocupa-se apenas com a manutenção das aparências.

Repentinamente, recebem uma carta de Krogstad, que devolve à promissória, e Helmer percebe que estão salvos e a rasga. Helmer se alegra, considera tudo resolvido e a perdoa, mas Nora se mantém fria, apesar da atitude de arrependimento dele. Ela agradece, tira a sua fantasia, enquanto ele discorre sobre sua própria benevolência em perdoá-la, em protegê-la e salvá-la. Nora o convida para conversarem, e diz nunca o ter compreendido, até aquela noite. É a primeira conversa séria, de homem e mulher, que eles têm. Nora compara o comportamento dele com o de seu pai, pois ambos a tratavam como uma criança a ser protegida e cuidada, ambos brincavam com ela como se brincassem com uma boneca, evitando que ela participasse dos problemas e das decisões, transformando-a em filha-boneca e mulher-boneca. Nora reconhece não estar preparada para educar seus filhos, e confessa que vai embora, pois apenas sozinha poderá compreender a si mesma e ao mundo, e confessa não mais amar o marido. Devolve-lhe sua aliança, e diz que só voltará se acontecer o maior de todos os milagres: os dois se modificarem a ponto de fazer do casamento uma verdadeira vida em comum. Nora sai e Helmer fica só.


Características 


É um drama em três atos, em que Ibsen questiona as convenções sociais do casamento. A tragédia retrata a hipocrisia e convencionalismos da sociedade do final do século XIX.

Na época, mediante as tentativas de emancipação feminina, foi uma peça revolucionária, com grande repercussão entre feministas, a Europa inteira a discutiu. Houve censuras violentas lançadas contra a personagem principal, Nora, pois a época não perdoou seu abandono da casa e dos filhos.

Com essa peça, os críticos acreditam que Ibsen abriu caminho para a tragédia, pois foi à primeira solução trágica do autor: Nora abandona marido e filhos em busca da liberdade pessoal.