segunda-feira, 14 de abril de 2014

PAPO DE COXIA - IBSEN

IBSEN


Henrik Johan Ibsen (18281906) foi um dramaturgo norueguês, considerado um dos criadores do teatro realista moderno. Foi o maior dramaturgo norueguês do Século XIX. Foi também poeta e diretor teatral, sendo considerado o “pai do drama em prosa” e um dos fundadores do modernismo no teatro

Muitas de suas peças foram consideradas escandalosas na época em que foram lançadas, mediante o fato de o teatro europeu estar sujeito ao modelo determinado pela vida familiar e pela propriedade. Os trabalhos de Ibsen analisavam a realidade contida por trás das convenções e costumes, o que trouxe muita inquietação para seus contemporâneos. Ele lançou um olhar crítico e a livre investigação sobre as condições de vida e as questões da moralidade da época. 

Ibsen é muitas vezes classificado como um dos verdadeiramente grandes dramaturgos da tradição europeia. Richard Hornby o descreve como "um profundo e poético dramaturgo — o melhor desde Shakespeare". Ele influenciou outros dramaturgos e romancistas, tais como George Bernard Shaw, Oscar Wilde, James Joyce e Eugene O'Neill. Muitos críticos o consideram o maior dramaturgo desde Shakespeare.

Ibsen viveu por 27 anos na Itália e Alemanha e raramente visitou a Noruega durante seus anos mais produtivos.

Ibsen nasceu na pequena cidade portuária de Skien, em Telemark, uma cidade que se ocupava do transporte de madeiras. 

Knud Ibsen veio de uma longa linhagem de marinheiros (capitães), mas decidiu se tornar um comerciante, alcançando sucesso inicial. Seu casamento com Maria Cornélia Altenburg foi "um arranjo familiar excelente. A mãe de Maria Cornélia e o padrasto de Knud foram como irmãos, cresceram juntos. Maria Cornélia Altenburg era filha de um dos mais ricos comerciantes madeireiros na próspera cidade de Skien”.

Quando Henrik Ibsen tinha cerca de sete anos de idade, no entanto, a sorte de seu pai deu uma guinada significativa para o pior, e a família acabou por ser forçada a vender o edifício principal dos Altenburg no centro de Skien, e mudar-se definitivamente para sua casa de verão de pequeno porte, Venstøp, fora do da cidade. Tal mudança influenciou definitivamente o comportamento de Ibsen que, já tímido por natureza, tornou-se mais isolado. A atmosfera familiar também era difícil, pois o pai era um homem dominador e alcoolista, e sua mãe uma mulher submissa, que buscava conforto na religião. Suas maiores distrações na infância eram o desenho e a pintura, paixões que manteve, pois conservou sempre consigo uma coleção de quadros que adquirira..

A família Ibsen acabou se mudando para uma casa da cidade, Snipetorp, de propriedade do meio-irmão de Knud Ibsen, o rico banqueiro e armador Christopher Blom Paus. Sua formação teria uma forte influência no trabalho posterior de Ibsen; os personagens em suas peças, muitas vezes eram espelho de seus pais, e seus temas muitas vezes lidavam com questões de dificuldade financeira, bem como conflitos morais decorrentes de segredos escondidos da sociedade. Ibsen usaria tanto o nome quanto o modelo de personagens inspirados em sua própria família.

Na adolescência, Ibsen apaixonou-se pela teologia e se tornou grande leitor da Bíblia, porém pouco pode se dedicar a tal estudo, pois aos dezesseis anos, mediante as precárias condições da família, teve que escolher uma profissão, mudando-se para a cidade de Grimstad, onde passou a trabalhar como aprendiz do farmacêutico, aí permanecendo por cinco anos. Em 1846, quando Ibsen tinha 18 anos, nasce Hans Jacob Henriksen, filho ilegítimo de Ibsen e Else Sophie, uma das criadas de Reimann, que Ibsen assumiu e sustentou imbuído pelo senso do dever, mas nunca o viu. A farmácia passou, depois, a ter um novo proprietário, o qual dá mais liberdade a Ibsen, que passa a administrar a farmácia praticamente sozinho. Conhece o músico Christojher Due e o estudante de direito Ole Shulerud, e a farmácia passa a ser um local de encontro de jovens que discutiam política, sociologia e literatura da época.

Ibsen pretendia, nessa época, estudar medicina, mas foi reprovado nos exames de admissão à universidade, passando a se dedicar, então, apenas à literatura. Sua primeira obra para teatro foi escrita ainda em Grimstad, em 1849, Catilina, que na época foi rejeitada pelos editores, e que foi publicada um ano depois, sob o pseudônimo "Brynjolf Bjarme". Sua segunda peça, Kjaempehoien (Túmulo de gigantes), compõe-se de um só ato e foi representada no teatro real de Cristiânia, atual Oslo, em 1850, mas recebeu pouca atenção.

A principal fonte de inspiração de Ibsen foi aparentemente o autor norueguês Henrik Wergeland e os contos populares noruegueses tais como recolhidos por Peter Christen Asbjørnsen e Jørgen Moe. Na juventude de Ibsen, Wergeland foi o mais aclamado, e de longe o mais lido poeta e dramaturgo norueguês.


Carreira literária

Produziu algumas sátiras, como "Norma", e poesias, como "A Epopeia" e "Helze Hundingsbone", adquirindo alguma celebridade. Foi designado, então, para diretor de cena num pequeno teatro de Bergen, o "Det Norske Theater", em Bergen, onde esteve envolvido na produção de mais de 145 execuções como escritor, diretor e produtor. Escreveu quatro peças, entre elas "Madame Inger em Ostraat", em 1855. "A Festa em Solhaug", de 1856, foi seu primeiro sucesso popular, resultando no convite para uma festa na casa da escritora Magdalene Thoresen, onde conheceu sua futura esposa, Suzannah Daae Thoresen, filha da escritora. Em 1858 casou com Suzannah e em 1859 nasceu o único filho do casal, Sigurd.

Ibsen voltou para Cristiânia e assumiu o Norwegian Theatre, em 1857, e após a falência desse teatro, assumiu a direção do Teatro de Cristiânia Theatre, escrevendo então "Os Guerreiros em Helgeland" em 1858, e a sátira "A Comédia do Amor", em 1862, essa idealizada inicialmente em prosa, mas transformada depois em versos. Nesta obra inicia sua luta contra as mentiras sociais, no caso específico, a hipocrisia do amor.

Em 1861, descontente com suas dívidas, doenças e com a pouca valorização atribuída à sua literatura, chegou a pensar em suicídio. Ele se casou com Suzannah Thoresen em 18 de junho de 1858 e ela deu à luz seu único filho, Sigurd Ibsen, em 23 de Dezembro de 1859. O casal vivia em péssima situação financeira e Ibsen tornou-se muito desiludido com a vida na Noruega. Em 1864, deixou a Cristiânia e foi para Sorrento, na Itália, em exílio auto-imposto. Nessa época, iniciou uma verdadeira polêmica com o escritor democrata Björnstjerne Björnson, através de correspondência. Ele não retornaria à sua terra natal nos próximos 27 anos, e quando retornou, foi como um famoso, mas controverso, dramaturgo.

Sua peça seguinte, Brand (1865), foi para trazê-lo à aclamação da crítica e ao sucesso financeiro, como a peça seguinte, "Peer Gynt" (1867).

Com o sucesso, Ibsen se tornou mais confiante e começou a introduzir mais e mais de suas próprias crenças e julgamentos nos dramas, explorando o que ele chamou de o "drama de idéias". Sua próxima série de peças é muitas vezes considerada o Golden Age, quando entrou no auge de seu poder e influência, tornando-se o centro da controvérsia dramática em toda a Europa.

Ibsen mudou da Itália para a Dresden, Alemanha, em 1868, onde passou anos escrevendo a peça que ele considerava como sua principal obra, "Imperador e Galileu" (1873), dramatizando a vida e os tempos do imperador romano Juliano, o Apóstata. Embora o próprio Ibsen sempre tenha olhado essa peça como a pedra angular de sua obra inteira, muito poucos partilharam a sua opinião, e suas obras seguintes seriam muito mais aclamadas. Ibsen mudou para Munique em 1875 e publicou "Casa de Bonecas" em 1879. A peça é uma crítica mordaz aos papéis conjugais aceitos por homens e mulheres que caracterizou a sociedade da época de Ibsen.

"Espectros" se seguiu em 1881, apresentando outro comentário mordaz sobre a moralidade da sociedade de Ibsen, em que uma viúva revela ao seu pastor que havia escondido os males de seu casamento para a sua duração. O pastor a aconselhara a se casar com seu noivo, apesar de sua promiscuidade, e ela fez isso na crença de que seu amor iria reformá-lo. Mas essa promiscuidade continuou até sua morte, e seus vícios são passados para seu filho na forma de sífilis. A menção da doença venérea, para mostrar como ela pode envenenar uma família respeitável, foi considerada intolerável.

Em "Um Inimigo do Povo" (1882), Ibsen foi ainda mais longe. Em peças anteriores, elementos controversos foram componentes importantes e até mesmo fundamentais na ação, mas eles foram em pequena escala de cada família. Em "Um Inimigo", a controvérsia tornou-se o foco principal, e foi o antagonista de toda a comunidade. A mensagem principal da peça é que o indivíduo que está sozinho é mais "certo" do que a massa de pessoas, que são retratados como ignorantes e carneiros. A crença da sociedade contemporânea era a de que a comunidade era uma instituição na qual se podia confiar, mas Ibsen apresenta a contestação dessa noção. Em "Um Inimigo do Povo", Ibsen critica não só o conservadorismo da sociedade, como também o liberalismo da época. Ele ilustrou como as pessoas de ambos os lados do espectro social poderiam ser iguais. "Um Inimigo do Povo" foi escrito como uma resposta às pessoas que haviam rejeitado o seu trabalho anterior, "Espectros". O enredo da peça é um olhar velado na forma como as pessoas reagiram à trama de “Espectros”. O protagonista é um médico em um local de férias, cujo principal objetivo é construir um banho público. O médico descobre que a água está contaminada, e espera ser aclamado para salvar a cidade do pesadelo de infectar os visitantes com a doença, mas ao invés disso ele é declarado um "inimigo do povo" pelos moradores, que lutam contra ele e até mesmo atiram pedras através de suas janelas. A peça termina com o seu completo ostracismo. É óbvio para o leitor que o desastre está na construção dos banhos para a cidade, bem como para o médico.

Como as audiências agora o aguardam, a sua próxima peça novamente ataca crenças arraigadas e pressuposições, mas desta vez, seu ataque não foi contra os costumes da sociedade, mas contra os reformadores e seu idealismo. Sempre um iconoclasta, Ibsen foi igualmente disposto a derrubar as ideologias de qualquer parte do espectro político, inclusive o próprio.

"O Pato Selvagem" (1884) é por muitos considerado o melhor trabalho de Ibsen, e é certamente o mais complexo. Ele conta a história de Gregers Werle, um jovem que retorna à sua cidade natal depois de um exílio prolongado e se reencontra com seu amigo de infância Hjalmar Ekdal. Ao longo da peça, os muitos segredos que estão por trás da casa Ekdals, aparentemente feliz, são revelados por Gregers, que insiste em perseguir a verdade absoluta, ou o "Chamado do Ideal". Entre estas verdades: o pai de Gregers engravida Gina e induz Hjalmar a se casar com ela e legitimar a criança. Outro homem foi desonrado e preso por um crime cometido pelo velho Werle. Além disso, enquanto Hjalmar passa seus dias trabalhando em uma "invenção" imaginária, sua esposa está ganhando a renda familiar. Ibsen mostra uso magistral de ironia: apesar de sua dogmática insistência na verdade, nunca Gregers diz o que pensa, mas apenas insinua, e nunca é entendido até que a peça atinja seu clímax. Gregers atinge Hjalmar através de insinuações e frases codificadas até que ele percebe a verdade, que a filha de Gina, Hedvig, não é sua filha. Cegado pela insistência de Gregers sobre a verdade absoluta, ele nega a criança. Vendo o estrago que ele tem feito, Gregers determina a reparar as coisas, e sugere a Hedvig que sacrifique o pato selvagem, seu animal de estimação ferido, para provar seu amor por Hjalmar. Hedvig, sozinha entre os personagens, reconhece que Gregers sempre fala em código, e procurando o significado mais profundo na primeira revelação importante de Gregers, mata-se, em vez de o pato, a fim de provar seu amor por ele no último ato de auto-sacrifício. Só muito tarde Hjalmar e Gregers percebem que a verdade absoluta do "ideal" é às vezes demais para o coração humano suportar.

No final de sua carreira, Ibsen se voltou para um drama mais introspectivo, que tinha muito menos a ver com denúncias dos valores morais da sociedade. Nas peças posteriores, tais como "Hedda Gabler" (1890) e "Solness, o Construtor" (1892), Ibsen explorou conflitos psicológicos que transcendiam uma rejeição simples de convenções atual. Muitos leitores modernos têm encontrado nesses trabalhos posteriores o objetivo de confronto interpessoal. "Hedda Gabler" é provavelmente uma das peças mais executadas de Ibsen, com o papel-título considerado como um dos mais desafiadores e recompensadores para uma atriz, mesmo nos dias de hoje.

Em 1889, Ibsen conheceu Emilie Bardach, uma jovem da alta sociedade canadense, com a qual passou a trocar correspondência, e especula-se um possível relacionamento amoroso entre eles. Suas cartas foram publicadas após a morte de Ibsen. Vieram então "Rosmersholm", "A Dama do Mar" e, em 1890, "Hedda Gabler". Nessa tragicomédia, através da discussão do papel da mulher na sociedade o autor leva o espectador a refletir sobre a própria existência humana.

Em 1892, seu filho Sigurd casou com Bergliot, e em 1893 nasceu o neto, Tancred. Em 1894, escreveu "O Pequeno Eyolf", onde criticou o papel social da família do século XIX. No drama escrito por Ibsen, a tragédia da morte do filho Eyolf traz à tona o relacionamento do casal, com as dificuldades do compromisso social do casamento. Mediante a não realização individual, o casal deposita seus sonhos e expectativas na vida do frágil Eyolf que, numa atitude de libertação, segue a Senhora dos Ratos, personificação da morte na mitologia norueguesa.

E finalmente, em 1899, Ibsen escreveu sua última obra: "Quando Despertarmos de entre os Mortos”. Em março de 1900, Ibsen contraiu uma forte gripe, e em poucas semanas teve o primeiro derrame, e em 1901 o segundo. Em 1902 foi indicado para o Prêmio Nobel de Literatura. Em 1903, após um terceiro derrame, perdeu a capacidade manual de escrever, e morreu em 23 de maio de 1906, sendo sepultado em primeiro de junho com honras de Estado no cemitério Var Freisers.

Centenário 

O 100 º aniversário da morte de Ibsen, em 2006, foi comemorado com um "ano Ibsen" na Noruega e outros países. Este ano, a empresa de construção civil "Selvaag" também abriu o "Peer Gynt Sculpture Park", em Oslo, Noruega, em honra de Henrik Ibsen, tornando possível acompanhar a peça Peer Gynt cena a cena.

Em 23 de maio de 2006, o Museu Ibsen (Oslo) foi aberto, na casa onde Ibsen passou seus últimos 11 anos, completamente restaurado com o interior original nas cores e na decoração.


Histórico 

Durante quatro séculos a Noruega fora administrada pelos dinamarqueses. Em 1814, separa-se da Dinamarca e integra-se à monarquia da Suécia, passando a ter sua própria Constituição, em 17 de maio, considerada uma das mais liberais da Europa. O poder executivo, porém, era constituído por civis indicados e o poder legislativo eleito indiretamente pelo povo. Os noruegueses não conseguiam impedir completamente as interferências suecas, que feriam seu orgulho nacional e serviam como incentivo ao nacionalismo.

Ao longo da dominação, duas classes haviam se formado: os camponeses e os funcionários. A classe dos funcionários era constituída por toda uma variedade de participantes, desde funcionários públicos, magistrados, pastores da Igreja Luterana, advogados, médicos, universitários em geral, até comerciantes e armadores, representando a civilização ocidental do país, a classe dirigente, sob a influência dinamarquesa que os formara e a fidelidade à coroa sueca. Já a classe dos camponeses, representada também pelos pescadores, pelos pobres, era politicamente democrática e ortodoxamente religiosa, odiava o Estado, que a excluía pela falta de formação universitária. As duas classes eram incompatíveis, inclusive falavam línguas diferentes: os funcionários falavam e escreviam o Riksmaal, língua dinamarquesa comum, e os camponeses falavam o Landsmaall, antiga língua medieval, próxima do islandês e do nórdico primitivo.

A literatura norueguesa era mais precisamente um ramo da literatura dinamarquesa. A literatura norueguesa moderna, identificada como literatura independente, inicia com Henrik Wergeland, chefe dos revolucionários nacionalistas e Johan Sebastian Welhaven, chefe dos conservadores. Por volta de 1850, iniciam-se as transições sociais, que vão servir de impulso para as revoluções literárias. O jovem Ibsen era, portanto, um daqueles estudantes pobres, que buscava vencer a custa de várias privações. O escritor entra num grupo de estudantes socialistas, os primeiros da Noruega, e começa a colaborar num jornal operário criado por Thrane. A prisão de Thrane e seus assistentes convence Ibsen a abandonar as manifestações políticas, mas as ideias socialistas intensificam sua revolta contra as autoridades e contribuem para a formação de sua visão de liberdade individual.


Características literárias 

Acredita-se que a obra de Ibsen foi influenciada pelo poeta dinamarquês Adam Gottlob Oehlenschläger, que enaltecia a era viking, e pelo dramaturgo francês Eugene Scribe, autor de mais de quatrocentas peças, muitas delas produzidas por Ibsen na época em que era diretor de teatro.

Costuma-se dividir sua obra em três períodos: romântico, entre 1850 e 1873, realista, entre 1877 e 1890, e simbolista, de 1892 a 1899.

Suas peças mais famosas retratam de forma realista a vida contemporânea, e seu tema central é o dever do indivíduo para consigo mesmo, onde os conflitos psicológicos predominam sobre as situações. Seu individualismo anarquista influenciou as gerações posteriores, mas em sua vida pessoal, Ibsen era conservador.

Suas peças causaram escândalo na sociedade da época, no enfrentamento dos valores morais vitorianos da família e da propriedade, então ainda predominantes. Ibsen defendia a liberdade espiritual, que nada teme, e não se submetia a nenhuma disciplina partidária, apenas à verdade.

Ibsen reescreveu totalmente as regras de drama com um Realismo teatral, que seria adotado por Chekhov e outros, e encabeçaria suposições, desafiador e falando diretamente sobre questões que têm sido consideradas um dos fatores que transformam a peça em arte, e não entretenimento.


CASA DE BONECAS (IBSEN)


É uma peça teatral que começou a ser escrita em 1878 e foi concluída em 1879, sendo representada pela primeira vez no “Det Kongelige Teater”, em Copenhage.


Enredo 



Ato I


O livro apresenta um perfil do relacionamento entre Nora e o marido, Helmer. É época de Natal e Nora chega com uma árvore, com cuidado para que as crianças não a vejam antes de ser enfeitada. O marido conversa com ela, de forma paternal, chamando a atenção para os seus gastos exagerados, mas ao mesmo tempo mimando-a. Costuma chamá-la carinhosamente de “cotovia”, “esquilo”, “minha menininha”, de forma a tratá-la como criança travessa, ao que ela aceita e age de forma infantil e sem maiores responsabilidades, preocupada apenas em satisfazer pequenos prazeres do dia a dia, como comprar presentes e preparar a festa de Natal. Nora pergunta ao marido se já convidou Dr Rank para a festa, ele relata que sim, fala do vinho que comprou para a noite e lembra da festa do ano anterior.

Repentinamente, a criada Helena anuncia a chegada de uma mulher e do Dr. Rank, concomitantemente, e enquanto Helmer recebe Rank no escritório, Nora recebe a mulher, que inicialmente não reconhece e que depois constata ser a Sra. Cristina Linde, sua antiga colega de escola. Nora se desculpa por não ter lhe escrito quando da morte do marido, há três anos, e se apieda por Cristina ter ficado completamente só, sem filhos e sem bens. Relata estar muito feliz, pois Helmer foi nomeado, há poucos dias, diretor do Banco de Investimentos, e assumirá o posto no próximo ano, o que trará estabilidade à família, e não precisarão mais fazer economia. Nora relata para a amiga que ajudou a família fazendo pequenos trabalhos artesanais, e que Helmer adoecera, obrigando-os á passar um ano na Itália, em tratamento, com o dinheiro do pai dela. Cristina, por sua vez, relata que casara porque sua mãe estava doente e ela precisara sustentar os irmãos. Apesar disso, quando o marido morreu, precisou fazer diversos trabalhos, até que agora, com a morte da mãe e a independência dos irmãos, voltara em busca de um emprego estável, e acreditava que Helmer pudesse ajudá-la. Nora se prontificou a falar com o marido sobre o assunto.

Cristina insinua que Nora não conhece o “lado feio da vida”, que é uma “criança grande”, e Nora contesta, confidenciando-lhe que fora ela que salvara a vida do marido. Na verdade, todos pensavam que fora seu pai que os ajudara na viagem à Itália, e mediante o fato de logo ele ter logo falecido, continuaram a pensar assim, mas fora ela, Nora, quem conseguira o dinheiro, através de um empréstimo que ainda pagava com pequenos sacrifícios e economias, sem seu marido saber. A campainha toca novamente, e a criada anuncia o Sr. Krogstad, que quer falar com Helmer sobre seu cargo no banco, já que Helmer será seu patrão. Cristina o reconhece, dizendo que ele se dedica a “negócios de toda espécie”. Dr. Rank entra na sala, vindo do escritório, e é apresentado à Sra. Linde. Rank comenta sobre Krogstad, que agora se encontra no escritório de Helmer, e comenta sobre a falta e caráter dele. Quando Helmer sai do escritório, é apresentado a Cristina e, para satisfação de Nora, promete lhe conseguir algum emprego. Helmer, Dr. Rank e Cristina saem, e na saída, encontram-se com os três filhos do casal, que chegam com a governanta Ana Maria.

Nora fica a sós com os filhos e, repentinamente, Krogstad entra pela porta entreaberta, para lhe falar. Falam a sós e Krogstad pede que Nora interfira por ele com o marido, mantendo-o num bom cargo no banco, e quando Nora recusa, ele a ameaça de contar ao marido sobre o empréstimo que ele lhe fez. Nora acredita que o empréstimo está quase pago, porém Krogstad esclarece que ela não prestou atenção às condições do contrato de empréstimo. Ela assinara as promissórias, e seu pai assinara com avalista, porém a data que estava em branco fora datada três dias após o pai de Nora haver morrido, além de a assinatura e a letra não serem a do falecido. Nora admite ter ela mesma assinado o documento, e não o pai, pois ele estava doente. Krogstad ameaça levar o documento à Justiça, para prejudicar Nora e o marido, e sai. Nora fica preocupada, mas começa a arrumar a árvore de Natal, quando Helmer chega e pergunta se Krogstad lhe pedira para interceder por ele; Nora nega e disfarça envolta com os arranjos de Natal. Helmer relata que Krogstad falsificou uma assinatura, e comenta da baixeza desse ato, em especial perante o mau exemplo para os filhos; depois pede que Nora não interceda por Krogstad. Nora fica perplexa e assustada, com a possibilidade de o marido não a perdoar mais.



Ato II


No mesmo cenário, ao lado da árvore de Natal, Nora está preocupada. A governanta a ajuda com a caixa de fantasia, e Nora lhe pergunta sobre a filha, que se criou longe de Ana Maria, pelo fato de essa precisar trabalhar. Ana Maria sai e Nora fica imersa em preocupações. Cristina entra, e Nora lhe fala sobre a festa de fantasias a que ela e o marido vão comparecer à noite, no apartamento dos vizinhos do andar de cima. Enquanto costuram, Cristina lhe pergunta sobre o Dr. Rank, achando-o deprimido, e insinuando que ele seja um admirador que emprestou a Nora o dinheiro para o tratamento do marido. Nora nega, revela que Dr. Rank está doente, mas aventa a possibilidade de lhe pedir ajuda. Cristina percebe que ela está lhe escondendo alguma coisa, mas Helmer chega e Cristina se recolhe para o quarto das crianças. Nora pede delicadamente a Helmer que conserve o emprego de Krogstad no banco, mas ele recusa, pois esse será o emprego de Cristina. Nora tenta convencê-lo, mas Helmer está firme e apresenta outras razões para demiti-lo, mandando Helena levar um recado escrito para Krogstad, a sua demissão. Nora fica desesperada, e quando marido sai para o escritório Dr. Rank chega.

Dr. Rank se mostra pessimista com a própria saúde, e pede que Helmer não esteja à sua cabeceira quando falecer. Nora o consola, mostra-lhe trivialidades de sua fantasia, e Dr. Rank se mostra grato por frequentar a casa. Nora se sente à vontade com a amizade dele e se acha movida a lhe pedir ajuda, quando Rank confessa-lhe o seu amor, deixando-a embaraçada e sem coragem de lhe pedir um favor. Enquanto conversam, a criada Helena lhe traz um cartão, que Nora olha e guarda no bolso, desculpando-se com Rank e saindo. Krogstad a aguarda na cozinha.

Krogstad relata ter recebido a carta de demissão; Nora diz que nada pôde fazer, e ele relata ter em seu bolso uma carta para Helmer, contando tudo, e pede que ela o ajude, não em dinheiro, mas em reabilitação, influenciando Helmer e conseguindo-lhe um emprego mais elevado no banco. Nora não aceita e ele a ameaça, dizendo que sua reputação depende dele, depois sai e Nora o ouve colocando a carta na caixa do correio. Quando Cristina chega, Nora lhe mostra a carta na caixa, e diz ser de Krogstad, e conta a ela o que aconteceu. Mediante o desespero de Nora, Cristina pretende ir atrás de Krogstad, e sai.

Nora vai até o escritório, abre a porta e conversa com Helmer e Rank, tentando distrair o marido antes que ele vá até a caixa de correio. Tenta distraí-lo com o ensaio de dança, e pede que não abra a correspondência até depois da festa. Cristina volta; a criada os chama para o jantar. Cristina segreda a Nora que Krogstad saiu da cidade, e que ela lhe deixou um bilhete. Nora lhe diz que não está mais preocupada, pois ocorrerá um milagre e se prepara para o jantar.



Ato III



O terceiro ato ocorre na própria sala anterior. A Sra Linde está sentada, lendo, e Krogstad entra pelo vestíbulo, relatando ter recebido seu bilhete; Cristina está só, pois o casal foi no baile a fantasias, no andar de cima. Os dois revelam um relacionamento anterior, e Krogstad lhe cobra o fato de ela o ter abandonado, ao que Cristina se desculpa, pois na época tinha mãe doente e irmãos para criar, e não podia esperar pelos projetos dele, que pareciam muito distantes e assim se casou com outro. Cristina e Krogstad revelam que perceberam que ela ocuparia o lugar dele no banco. Ela sugere que fiquem juntos novamente, pois ela se sente sozinha, e ele aceita, alegremente. Krogstad pensa em voltar atrás em sua atitude com os Helmer, e decide pedir a carta de volta. Cristina o dissuade, pois relata ter visto muitas coisas naquela casa, sugerindo que seria melhor Helmer saber de tudo.

Krogstad diz que ainda precisa fazer uma coisa e que vai esperá-la, lá fora. Cristina fica feliz, por ter novamente alguém para cuidar. Nora e Helmer chegam do baile, e Cristina diz ter esperado para ver Nora fantasiada. Helmer elogia a esposa que dançou durante a festa, e sai para o quarto. Nora conversa com Cristina, perguntando se falou com Krogstad, e essa revela que Krogstad nada vai fazer, mas que o marido precisa saber de tudo; Nora nega. Helmer volta, e Cristina se despede e sai. Helmer e Nora ficam sós, e ele lhe fala de seu carinho, quando Rank chega. Conversam sobre generalidades da festa a fantasia, Rank pede um charuto e depois sai. Helmer vai até o escritório para olhar as cartas, e percebe que alguém mexeu na fechadura, tentando abri-la com um grampo. Helmer pega as cartas, Nora fica apavorada, mas Helmer encontra dois cartões de Rank, um encimado por uma cruz preta, e o casal percebe que o médico estava anunciando sua própria morte. Helmer se entristece com a perda do amigo e se fecha no escritório para ler as cartas, enquanto Nora se desespera, acreditando que o perderá, e aos filhos, para sempre. Repentinamente, Helmer abre sua porta, com uma carta nas mãos, mostrando-se incrédulo com o seu conteúdo. Nora diz que fez tudo por amá-lo, mas ele se ressente, acusando-a da falta de princípios que ela herdara do pai, julgando-a e preocupando-se com o fato de tal situação se tornar pública, expondo-os e tornando-o também suspeito. Proíbe-a de educar os filhos, e preocupa-se apenas com a manutenção das aparências.

Repentinamente, recebem uma carta de Krogstad, que devolve à promissória, e Helmer percebe que estão salvos e a rasga. Helmer se alegra, considera tudo resolvido e a perdoa, mas Nora se mantém fria, apesar da atitude de arrependimento dele. Ela agradece, tira a sua fantasia, enquanto ele discorre sobre sua própria benevolência em perdoá-la, em protegê-la e salvá-la. Nora o convida para conversarem, e diz nunca o ter compreendido, até aquela noite. É a primeira conversa séria, de homem e mulher, que eles têm. Nora compara o comportamento dele com o de seu pai, pois ambos a tratavam como uma criança a ser protegida e cuidada, ambos brincavam com ela como se brincassem com uma boneca, evitando que ela participasse dos problemas e das decisões, transformando-a em filha-boneca e mulher-boneca. Nora reconhece não estar preparada para educar seus filhos, e confessa que vai embora, pois apenas sozinha poderá compreender a si mesma e ao mundo, e confessa não mais amar o marido. Devolve-lhe sua aliança, e diz que só voltará se acontecer o maior de todos os milagres: os dois se modificarem a ponto de fazer do casamento uma verdadeira vida em comum. Nora sai e Helmer fica só.


Características 


É um drama em três atos, em que Ibsen questiona as convenções sociais do casamento. A tragédia retrata a hipocrisia e convencionalismos da sociedade do final do século XIX.

Na época, mediante as tentativas de emancipação feminina, foi uma peça revolucionária, com grande repercussão entre feministas, a Europa inteira a discutiu. Houve censuras violentas lançadas contra a personagem principal, Nora, pois a época não perdoou seu abandono da casa e dos filhos.

Com essa peça, os críticos acreditam que Ibsen abriu caminho para a tragédia, pois foi à primeira solução trágica do autor: Nora abandona marido e filhos em busca da liberdade pessoal.

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